Título: Para governador de SP, Estado petista é mais fraco do que o da gestão tucana
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Política, p. A10

Um dos últimos a falar em seminário realizado ontem em Belo Horizonte pelo PSDB, o governador de São Paulo, José Serra, abriu mão de propagandear sua gestão para instigar o partido a discutir sua visão sobre o papel do Estado.

"Pegamos o bonde andando, assim é mais fácil", justificou, numa referência aos governos tucanos que o antecederam. Quando o PSDB foi criado, destacou, partidos de direita e de esquerda no Brasil eram igualmente "gastadores". E foram os tucanos que introduziram novos conceitos para a melhora dos gastos públicos, disse Serra em mais um seminário preparatório para o congresso do PSDB.

Anfitrião do evento, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, fez uma detalhada apresentação do seu "choque de gestão". Mas foi o governador de São Paulo, José Serra, quem melhor resumiu - com aplausos de Fernando Henrique - qual é o modelo de gestão pública da proposta tucana.

Para Serra, o Estado é hoje mais fraco do que era na gestão dos tucanos. Não por ausência de recursos, mas por falta de planejamento, de definição de prioridades. "Governo populista é um governo que não sabe definir prioridades", declarou. "Quando se diz que tudo é prioritário, nada é prioridade."

O governador criticou ainda o retrocesso nas agências regulatórias e lembrou que, ao serem criadas pelos tucanos, elas tinham quadros técnicos. Mas acabaram loteadas pelo governo Lula entre políticos.

Na avaliação do governador de São Paulo, o maior desafio para o partido - "um problema bastante crítico" - é de comunicação. Falta aos tucanos habilidade para comunicar suas ações. "Governar bem não basta, tem de comunicar bem."

Entusiasmado com a fala de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique chegou a brincar com a sugestão de que o bico do tucano, o mascote da legenda, fosse substituído pelo bico do sabiá. "Precisamos cantar nossos feitos", disse. "Somos sim capazes de fazer e somos melhores."

O ex-presidente desfiou um rosário de mudanças conduzidas quando o PSDB ocupava o Planalto, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, não se trata de arrogância. Arrogante - alfinetou - é quem não sabe nada e vai para fora do país falar mal dos antigos governantes. "Para governar é preciso o político, mas para administrar é preciso o técnico", resumiu.

Fernando Henrique observou ontem que até os feitos dos governadores tucanos - como os de Aécio Neves - vêm sendo contabilizados como conquistas do governo federal. Será preciso que os tucanos consigam traduzir para a população os seus "tecnicismos", consigam mostrar que eles resultam em benefícios para o povo. "O PSDB tem tudo para ter um discurso para o país", concluiu o ex-presidente da República. "Nós temos credenciais para continuar fazendo."

Sem falar abertamente sobre as disputas internas, antes de encerrar, FHC cobrou unidade dos tucanos. "Não pode ser maçante, que um fustigue o outro." Segundo ele, é preciso que as diferenças sejam compreendidas, afinal, "todo mundo igual é uma chatice": "Nós dependemos de estarmos juntos".

Durante o seminário de ontem, 40 prefeitos mineiros oficializaram a filiação ao PSDB.

O PSDB tem uma proposta clara sobre o papel do Estado, não acredita no "Estado-balofo" e defende o enxugamento da máquina pública. O serviço tem de ser público, mas não necessariamente estatal. É este o discurso que o partido precisa voltar a praticar para chegar novamente ao Palácio do Planalto. "Temos que assumir o que somos e defender com mais vigor aquilo que acreditamos", resumiu ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.