Título: Mais econômico e prático, turboélice ganha espaço
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2007, Empresas, p. B8

O deslocamento de executivos para acompanhar obras em localidades tão distantes quanto o Norte e Centro-Oeste era uma dor de cabeça para a construtora S. A. Paulista, responsável pela construção de algumas hidrelétricas nessas regiões. Em Rondônia, por exemplo, a viagem consumia até dois dias, por meio da aviação comercial e por vans, para levar os viajantes da capital para o interior. Recém-proprietária de um turboélice, a empresa consegue agora deslocar os funcionários para o mesmo local em 4 horas e meia. "Ganhamos produtividade", afirmou o empresário Ubirajara Amorim Filho, presidente da Paulista, que também tem obras no Tocantins e Mato Grosso. "São lugares remotos, onde não há pistas de pouso asfaltadas e os acessos por terra são difíceis".

Máquinas versáteis, os aviões turboélice ganham espaço dentro da aviação executiva nacional por terem custo operacional mais baixo e preços bem menores que os dos jatos. Mas o principal motivo para seu sucesso é ser capaz de pousar em pista de terra (das 2,6 mil pistas existentes no Brasil, apenas 400 são asfaltadas). Uma única pedrinha sugada por uma turbina pode significar um prejuízo de milhares de dólares e semanas de jato no chão.

Dessa forma, a categoria tem atraído o interesse de grandes corporações - construtoras, mineradoras, empresas ligadas ao agronegócio etc - que buscam no interior do país o crescimento de suas atividades.

Os aviões a turboélice formam a segunda maior frota executiva, com 500 aparelhos, de acordo com levantamento da Associação Brasileira da Aviação Geral (Abag), em comparação com os 650 helicópteros e 350 jatos. Fabricantes e representantes projetam para os próximos anos vendas bem maiores que os 6% de crescimento estimados para o setor em geral.

"É um mercado de nicho, procurado para executar ", reconheceu o presidente da fabricante suíça Pilatus Business Aircraft, Thomas Hunziker. "Mas em algumas situações, as empresas optam pelos turboélices por cumprir as mesmas distâncias dos jatos", disse. O modelo PC-12, o carro-chefe da companhia, custa entre US$ 3,4 milhões de US$ 3,9 milhões e leva cerca de 10 passageiros.

Segundo ele, a fábrica, que fica n cidade de Stans, só tem condições de atender a novos pedidos a partir de 2009. Toda a produção, de cerca de 90 aeronaves anuais, está comprometida até o fim do ano que vem. "A demanda está crescendo no Leste Europeu e na América Latina", afirmou. No Brasil (onde a marca é representada pela Ocean Air Taxi Aéreo) já foram comercializadas 20 unidades em um ano e meio. Hunziker afirma que, por conta da limitação dos fornecedores de peças e serviços, não tem condições de expandir a fábrica.

A francesa Socata, ligada ao grupo europeu EADS também passou a mirar o mercado brasileiro recentemente. Já comercializou três unidades do monoturboélice TBM 850 no país, sendo que a primeira será entregue ainda este ano, de acordo com Daniel Bacou, diretor de suporte de operações civis da Socata. A intenção é vender mais oito no ano que vem O preço de tabela do TBM 850 é de US$ 2,85 milhões.

Somente no primeiro trimestre a Líder Taxi Aéreo , representante da americana Hawker Beechcraft, comercializou 35 aeronaves no Brasil, sendo 30 da família King Air. É um volume 20% maior em relação ao ano passado. Segundo a superintendente da Líder, Julia Hermont, essa linha de turboélice é a mais vendida no mundo. Só no país, a empresa estima possuir cerca de 38% da frota executiva de turbinas - só do modelo King Air, são 200 cruzando os céus.

"A procura vem crescendo em mercados do Centro-Oeste e do Norte, por conta das atividades ligadas ao agronegócio", afirmou a superintendente da Líder. A família King Air possui três modelos, que custam entre US$ 3,17 milhões e US$ 6,2 milhões e podem realizar vôos sem escalas, dependendo do peso que transportam, de São Paulo a Belém.