Título: Renan quer acelerar julgamento para tentar salvar mandato
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2007, Política, p. A6

O Senado deve acelerar o julgamento do senador Renan Calheiros por quebra do decoro parlamentar. A intenção dos líderes envolvidos na articulação, todos eles da coalizão governista, é liquidar a fatura nos próximos 30 dias, com a absolvição e a manutenção de Renan na presidência da Casa. Na avaliação desses líderes, o que importa agora é retirar o assunto de pauta, evitar mais desgaste e deixar que Renan ajuste suas contas com o Supremo Tribunal Federal.

Renan está de acordo com o movimento esboçado, que além do Senado passa também pelo Palácio do Planalto. O senador por Alagoas foi advertido pelo ex-presidente José Sarney que o "tempo joga" contra ele. Nos cálculos dos líderes aliados, cada semana significa erosão entre os votos favoráveis a Renan, que hoje já seriam menos que os 52 que ele obteve para se reeleger, ano passado, quando disputou a presidência contra o senador José Agripino Maia (DEM-RN).

Prova disso seria o desempenho do senador Romeu Tuma (DEM-SP), semana passada, em sua passagem por Alagoas. O ex-pefelista não hesitou em dizer que considerava que a situação de Renan se complicara com os depoimentos que ouvira em Maceió. Isso sem ao menos permitir que Renan pudesse responder às acusações feitas por um adversário político, o empresário João Lyra. Até Sarney, que é amigo de Tuma, reclamou, sob o argumento de que este não era o papel do corregedor-geral do Senado.

O próprio Renan já reconheceu que nunca imaginara, no início do processo, que ficaria "sangrando" por quase 80 dias. Entre os líderes que articulam a votação rápida do processo, houve quem sugerisse que ele renunciasse ao mandato. Atualmente, o entendimento é que o momento da renúncia já passou. Seria o mesmo que uma rendição incondicional à oposição, em especial ao DEM (antigo PFL) e ao P-SOL, que exigem a cabeça do pemedebista numa bandeja.

Por outro lado, Renan terá de se conformar que saiu reduzido da crise, tendo que dividir o poder e arquivar temporariamente projetos como uma eventual candidatura a vice-presidente. O PMDB do Senado também já identifica interlocutores que podem ocupar o espaço de Renan, como o ministro Nelson Jobim (Defesa), um nome em ascensão no partido: tem boa relação com o presidente da República e trânsito entre as correntes pemedebistas no Senado e na Câmara.

Se for possível, os aliados de Renan devem tentar votar o processo, no plenário, no mesmo dia em que for aprovado no Conselho de Ética. Explica-se: não há dúvidas entre eles que o conselho, com o voto aberto de seus integrantes, vai pedir sua cassação. É caso perdido. As chances do senador seriam no plenário, onde o voto é secreto. Votando no mesmo dia, Renan também ficaria livre do desgaste do noticiário - e dos discursos da oposição - sobre sua condenação no conselho por dias ou até semanas.

Absolvido no plenário, Renan ficaria no cargo. Menor, mas no cargo, passaria a responder às acusações no STF, para onde o processo será remetido. O Supremo, aliás, já investiga o presidente do Senado, a pedido do Ministério Público Federal. Há expectativa de novas denúncias ou representações ao Conselho de Ética, mas de repercussão política mais reduzida, segundo a avaliação de líderes. Nada a ponto de impedir que Renan e o governo passem a articular a votação da emenda constitucional que prorroga a cobrança da CPMF.

Para que o plano dos aliados dê certo é fundamental o resultado da perícia nos documentos de defesa de Renan, a ser divulgada esta semana pela Polícia Federal. Se for uma peça de acusação devastadora, o que eles não acreditam, será hora de procurar um nome para substituir Renan na presidência do Senado. A oposição, formalmente, está fora desse arranjo, muito embora o senador espere contar com apoios no DEM e no PSDB, por exemplo, no voto secreto. A oposição também dispõe de instrumentos regimentais para impedir ou pelo menos atrapalhar projetos dos aliados de Renan, como o de votar o processo todo - Conselho de Ética e plenário - num dia só.