Título: Mercosul negociará acordo com Canadá
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Brasil, p. A3

O Mercosul e o Canadá iniciarão em 7 de fevereiro negociações para um acordo bilateral de livre comércio, que o governo brasileiro gostaria de ver como modelo de tratado a ser sugerido pelos países do Cone Sul aos Estados Unidos. As negociações serão lançadas oficialmente durante visita ao Canadá da ministra de Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid, que será acompanhada pelos principais negociadores dos quatro países sócios do bloco. O Paraguai exerce neste semestre a presidência temporária do Mercosul, que muda a cada seis meses. "Há um interesse muito grande dos canadenses, e só não começamos em janeiro por problemas de agenda", informou ao Valor o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Régis Arslanian. A decisão de negociar com os canadenses foi tomada em uma reunião de representantes do Mercosul, semana passada, em Assunção, e atende a uma proposta discutida entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro do Canadá, Paul Martin, durante a visita deste ao Brasil, em novembro. A negociação se limitará ao chamado "acesso a mercados", ou seja, redução de barreira ao comércio de mercadorias e serviços - como vem propondo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O ministro propõe que este seja também o foco da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Durante a visita de Rachid a Ottawa, os dois lados devem decidir cronograma das reuniões e o método e cronograma de redução de tarifas. Canadá e Mercosul já trocaram entre si listas de produtos com cronograma para a eliminação de tarifas de importação nas negociações para a Alca. "Quem sabe essas listas poderão ser a base para uma negociação mais profunda", insinuou Arslanian, em uma resposta velada aos críticos da atuação do Itamaraty na negociação do acordo no continente. Com a paralisação das negociações para a Alca, os EUA passaram a negociar acordos bilaterais de comércio, em que têm obtido concessões em temas rejeitados pelo Brasil, como endurecimento das regras de proteção a marcas e patentes. O governo brasileiro é a favor da proteção, mas se recusa a incluir o tema em um acordo de comércio como a Alca por temer que eventuais problemas na área de patentes sejam usados no futuro como pretexto para criação de barreiras comerciais. Na semana passada, os co-presidentes das negociações da Alca, o brasileiro Adhemar Bahadian e o americano Peter Allgeier, enviaram uma carta aos governos dos 34 países negociadores para informar que haviam cancelado a reunião marcada para quinta-feira, em que discutiriam a retomada das discussões. Eles explicam, na carta, que o assunto será discutido em mais alto nível, por Amorim e o ainda representante de comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, durante a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Os dois deverão tentar um acerto para eliminar divergências e reiniciar a negociação. Em Davos a diplomacia brasileira espera obter sinais políticos para retomada de outra negociação paralisada, de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. A retomada do acordo, segundo garante Arslanian, é um dos principais temas do encontro entre o presidente Lula e o presidente da União Européia, Durão Barroso, a ser realizado às margens do Fórum Econômico.