Título: Pessôa vai chefiar novo núcleo de estudo do desenvolvimento da FGV
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2004, Brasil, p. A2

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) vai criar em 2005 um núcleo de trabalho para estudar as questões relativas ao desenvolvimento econômico. O novo centro de estudos será chefiado pelo economista Samuel Pessôa, a partir de abril, disse ao Valor o diretor do Ibre, Luiz Guilherme Schymura. Pessoa vai dirigir uma divisão destinada a estudos para debater o crescimento, entendido como uma das vertentes do desenvolvimento. Também serão produzidos trabalhos referentes ao custo do investimento ou Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Schymura, ex-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), está desde junho à frente do Ibre. Para 2005, além da incorporação de Pessôa, ele planeja lançar novos indicadores de preços no mercado, como o Índice de Preços ao Produtor (IPP), um índice econômico diferente do Índice de Preços no Atacado (IPA), que coleta preços no atacado - agricultura e indústria - para cálculo da inflação medida pelos Índices Geral de Preços (IGPs). A diferença básica entre o IPP e o IPA está na coleta de preços. "O IPA levanta o preço do distribuidor da cerveja, enquanto o IPP vai levantar o preço da Ambev para o seu revendedor", exemplificou. Schymura também adiantou que o IPP vai captar preços de serviços, incluindo os terceirizados. "O IPA informa como os distribuidores são afetados. O IPP vai ouvir o produtor e não o intermediário". O IPP é utilizado nos EUA para medir a inflação do atacado no âmbito específico do produtor. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também está trabalhando na confecção de um IPP por recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma das iniciativas do diretor do Ibre é estimular estudos conjuntos com o IBGE e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à Universidade de São Paulo, para evitar a duplicidade de custos na produção de indicadores. "O custo da geração de dados é muito alto. Isto vai melhorar a qualidade dos índices". Pioneira no cálculo da inflação no país - o IGP é calculado desde o fim dos anos 40 - a FGV já incorporou um novo produto, o Índice do Custo de Vida do Idoso ou IPC-3I (Índice de Custo de Vida da Terceira Idade). Na cesta de consumo do idoso o remédio pesa mais e o transporte público, menos. Os resultados mensais do IPC-3I já permitem considerar que a correção sobre os benefícios dos aposentados da Previdência está abaixo da correção do salário mínimo, mas está um ponto percentual acima do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), do IGP. Em 2004, no acumulado até novembro, o IPC-3I variou 5,98% e o IPC do IGP, 5,61%. "Esse índice é nossa contribuição para a discussão que existe hoje sobre o salário mínimo e a correção dos benefícios da Previdência. Quando aumenta o mínimo, aumenta na mesma proporção o benefício de quem ganha o mínimo, gerando um déficit maior na Previdência. Queremos colaborar para reduzir este impacto", explicou. O diretor do Ibre não considera a FGV/Ibre a grande fornecedora de teoria econômica ou de quadros para a equipe do governo Lula, como foi o papel da PUC-RJ durante o governo Fernando Henrique. "No governo anterior eu estava na Anatel e o Joaquim Levy (atual secretário do Tesouro) assessorava o Ministério de Planejamento." Para Schymura, o Ibre é hoje tão afinado com o governo Lula quanto era com o governo FHC. "É uma questão de racionalidade econômica".