Título: Reajuste do minério de ferro pode dar fôlego às exportações
Autor: Marília de Camargo César e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Brasil, p. A3

O cada vez mais provável reajuste nos preços do minério de ferro poderá ter um impacto positivo sobre as exportações e, com isso, elevar o saldo comercial de 2005. As negociações entre a Companhia Vale do Rio Doce e as grandes siderúrgicas internacionais ainda estão no começo, mas o resultado deve ser um aumento nas cotações do produto. Se a empresa conseguir um reajuste de 40% a 50% nos preços - a Vale pede 90% -, as exportações brasileiras podem crescer neste ano de US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões, segundo analistas. O mercado projeta vendas externas de US$ 100 bilhões e um superávit de US$ 26 bilhões. Alguns economistas já estão refazendo as contas e esperando o resultado dessas negociações, que começaram em dezembro e devem estender-se até março. Com base em uma demanda mundial aquecida e no aumento recente obtido pelo setor de carvão, de 120%, a Vale pede um aumento de 90% nos preços do minério de ferro, depois de ter reajustado a commodity em 18% no ano passado. O produto é o segundo na pauta de exportações do país, atrás somente da soja. Os economistas que acompanham a balança comercial não acreditam que a Vale consiga emplacar aumento de tal magnitude. "O razoável seria supor uns 40%", arrisca Fábio Silveira, sócio da MS Consult.

Caso a elevação se dê nesse patamar, as exportações de minério pulariam dos US$ 4,77 bilhões realizados em 2004 para US$ 6,7 bilhões, um aumento de US$ 1,9 bilhão, pelas contas da MS. Isso considerando que o volume de vendas não aumente também. Esse saldo adicional quase que compensaria a principal perda prevista para este ano na balança, que vem do complexo soja. A estimativa é que a queda de preço do grão subtraia US$ 2,7 bilhões nas exportações totais do complexo, que passariam dos US$ 31,1 bilhões de 2004 para US$ 28,4 bilhões, pelos dados da consultoria. Estimativas do International Iron and Steel (IISI) apontam que a demanda por aço vai aumentar 60 milhões de toneladas em 2005 no mercado global, o que vai exigir das mineradoras injetarem mais 90 milhões de toneladas de minério nesse mercado. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, ainda não considera um eventual aumento do preço do minério de ferro em suas projeções. Se as cotações do ferro subirem 90% neste ano, ele avalia que as vendas externas do produto pulariam para US$ 8,84 bilhões, um acréscimo de US$ 4,34 bilhões no saldo, estima ele, desde que o volume exportado continue constante. Vale diz, porém, ser muito improvável que a empresa consiga tamanho reajuste. Por isso, fez simulações com reajustes de 40% e 50% do preço do minério. O ganho das exportações seria de US$ 1,85 bilhão, no caso do aumento de 40%, ou de US$ 2,48 bilhões, se as cotações subirem 50%. Ele fez os cálculos com base nas exportações de minério de ferro entre dezembro de 2003 e novembro de 2004, quando totalizaram US$ 4,5 bilhões. Para ele, como a Vale é a maior produtora de minério de ferro do mundo, é provável que consiga reajustar os preços. A questão é saber qual será a magnitude. Ele ainda não revisou sua estimativa para as exportações deste ano, de US$ 100 bilhões, porque pretende esperar um pouco mais para ver o que vai ocorrer na disputa entre a mineradora e as siderúrgicas. "Mas os números envolvidos são importantes e nós vamos ficar de olho", diz ele, que projeta um saldo comercial de US$ 27 bilhões para 2005. Em 2004, o superávit foi de US$ 33,7 bilhões. O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, avalia que é possível uma surpresa positiva no resultado das exportações, lembrando que as atuais projeções "trabalham implicitamente com acomodação ou queda das commodities em seu conjunto".