Título: O keynesiano João Sicsú assume diretoria no Ipea
Autor: Durão,Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2007, Brasil, p. A5

Leo Pinheiro/Valor João Sicsú, novo diretor do Ipea: "Se não fosse para mudar, o presidente do Ipea não trocaria o diretor" O economista João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), assume na próxima semana a diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerada a mais importante da instituição e ocupada há quase quatro anos pelo economista Paulo Levy. Esta é a primeira grande mudança no órgão de pesquisa oficial desde que Márcio Pochman assumiu a presidência. Renault Michel, diretor e professor de economia brasileira da Faculdade Cândido Mendes, será o assessor de Sicsú no Ipea. Ele pretende ainda nomear uma mulher para diretora-adjunta.

Keynesiano e desenvolvimentista, como se define, Sicsú é favorável ao aumento do investimento público para no mínimo 1% do PIB e defendeu, em entrevista ao Valor, uma política de gastos públicos em obras por considerar a medida importante para a criação de empregos e reconstrução do país.

Essa postura mostra que as concepções econômicas do economista são abertamente conflitantes com a dos atuais condutores de macroeconomia do Ipea, em sua maioria ortodoxos, com foco na questão fiscal. Por essa razão, a nomeação de Sicsú para o cargo gera expectativas em economistas das diversas correntes de que mudanças mais profundas podem acontecer na orientação macro da instituição.

Paulo Levy , procurado pela Valor para falar de suas expectativas em relação ao que vem sendo denominado de "novo Ipea", não retornou as ligações. Fábio Giambiagi, que trabalha com Levy, disse que "esta é uma mudança absolutamente normal e corriqueira numa democracia".

O novo diretor do Ipea, cuja nomeação deve ser publicada hoje no "Diário Oficial da União" , indagado sobre as esperadas mudanças, já que ele comunga com Pochman da idéia de que o Ipea é um organismo que deve atender às demandas do governo e é um órgão de assessoria do governo, foi cauteloso em suas respostas. Ele disse que "se não fosse para mudar, o presidente do Ipea não trocaria o diretor". E acenou com "mudanças", sem citá-las, prometendo "continuidade" de tudo que foi construído e que é positivo dentro da sua diretoria. "Tudo que tiver de ser feito o será com muito respeito à coisa pública e aos profissionais do Ipea", disse. E ressaltou que quer o Ipea atuando "como uma instituição plural e voltada para pensar o desenvolvimento brasileiro".

Objeto de controvérsias por divulgar projeções macroeconômicas de curto prazo divergentes das do Ministério da Fazenda, o Boletim de Conjuntura do Ipea, uma publicação trimestral que faz projeções macroeconômicas de curto prazo, deverá ser alvo de avaliação por parte de Sicsú, que evitou dar respostas definitivas em relação ao seu destino. Mas ele acha que as projeções do Boletim devem ser do interesse das equipes da Fazenda e da Casa Civil e, por isso, vai consultar esses ministérios sobre o teor da publicação. Na sua avaliação, "um boletim de conjuntura é um ponto de partida para se pensar estratégias de desenvolvimento". A publicação atualmente é de responsabilidade da Diretoria de Estudos Macroeconômicos e coordenada por Giambiagi.

Ricardo Carneiro, economista da Unicamp, não acredita num choque de posições entre a nova direção do Ipea e a equipe antiga. "No Ipea do Rio existe uma cultura ortodoxa mais cristalizada, mas são bons economistas, têm discussão, apesar de concepções diferentes. Não vejo dificuldade de convivência entre a equipe antiga e a nova, apesar de considerar que na questão macroeconômica isto será mais difícil". Carneiro critica a área macro do Ipea por ter sido monotemática nos últimos dois anos em relação a questão fiscal.