Título: Suécia promete defender etanol brasileiro na UE
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2007, Brasil, p. A5

A Suécia promete lutar pelo etanol brasileiro na União Européia. Ontem, o primeiro-ministro sueco, o conservador Fredrik Reinfeldt, anunciou que seu governo vai eliminar um imposto interno sobre o etanol importado e pressionar a UE a reduzir as barreiras que limitam a entrada do etanol brasileiro na região. Os suecos querem uma estreita cooperação com o Brasil nesse setor.

A Suécia tem o programa mais avançado de utilização do álcool como combustível da Europa. O país usa o chamado E85, uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina, e aposta que esse se tornará o padrão na região. A mistura com a gasolina se deve ao clima frio e visa facilitar a partida do motor dos carros. Além disso, o país já mistura 5% de etanol à gasolina.

A corrida pelo biocombustível na Europa é intensa. Por determinação da UE, 5,75% do combustível vendido na região até 2010 deverá vir de fontes renováveis. Vários países, porém, estão longe de atingir o percentual. Até 2020, o uso de biocombustível terá de chegar a 10%.

A Suécia foi além. No ano passado, o governo anunciou a disposição de deixar de usar o petróleo para gerar energia e como combustível até 2020, sem recorrer à energia nuclear. Muitos analistas consideraram, na época, uma meta impossível de ser atingida.

A competição do etanol é com o biodiesel. Boa parte dos automóveis na Europa é movida a diesel. Algumas empresas, como a Neste, da Finlândia, apostam que o biodiesel levará a melhor sobre o etanol. Outras apostam no etanol, especialmente devido à introdução dos carros flex e à produção, dentro de alguns anos, do etanol celulósico (de segunda geração), que deve baratear o produto. Ainda assim, o consumo de etanol tende a subir, nem que seja apenas para ser acrescentado à gasolina.

Hoje, há cerca de 43 mil veículos a álcool rodando na Suécia, entre eles centenas de ônibus produzidos pela Scania. Várias cidades suecas estão convertendo a frota de ônibus para etanol. São os chamados ônibus verdes. Estão à venda no país carros a etanol das indústrias automobilísticas suecas Saab e Volvo, além de veículos flex, como o Ford Focus. No fim de 2006, o país tinha 632 bombas de etanol em postos pelo país. Esse número deve crescer 20% este ano.

O governo sueco dá uma série de incentivos para a compra de automóveis a etanol. Os impostos são menores em relação aos demais carros. Há ainda benefícios, como poder estacionar em áreas proibidas para os demais carros. Os impostos sobre o etanol também são menores que os dos demais combustíveis. E vão cair mais.

Ontem, em entrevista concedida ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o premiê Reinfeldt anunciou que vai eliminar até o final de 2008 uma taxa sobre etanol importado, instituída em 2006 para proteger a produção local. Segundo ele, a medida vai baixar o preço do etanol em 5 a 10 centavos de coroa sueca. O litro do etanol custa cerca de 7 coroas (pouco mais de US$ 1, menos de R$ 2).

A produção sueca de etanol atende a 10% da demanda. Quase 80% do etanol usado no país é importado do Brasil. "A oferta local não vai atender à demanda, pois o objetivo do país é mudar a sua matriz energética", afirmou Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil.

Reinfeldt disse que a eliminação da taxa sueca vai pressionar outros países a fazerem o mesmo. Ele afirmou ainda que defenderá a eliminação das restrições européias ao etanol brasileiro. "Vemos o etanol como commodity energética, não como produto agrícola, e ninguém taxa commodities energéticas", disse Amorim, indicando sintonia com a posição sueca.

O presidente Lula assinou com a Suécia um amplo acordo de cooperação em etanol, similar ao que o Brasil já tem com os EUA. Na entrevista coletiva, Lula reiterou a disposição do governo brasileiro de oferecer certificações ambientais e trabalhistas do etanol vendido aos europeus. Isso incluiria a definição de um "zoneamento agrícola", isto é, a delimitação de áreas onde seria permitido plantar cana e oleaginosas para produção de etanol e biodiesel. O zoneamento excluiria a floresta amazônica.