Título: Prorrogação de concessão da Vasp parece improvável
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Empresas &, p. B3

O Departamento de Aviação Civil (DAC) deu sinais, ontem, de que muito dificilmente vai prorrogar a concessão da Vasp como operadora de transporte de aéreo. Embora esteja impedida de voar porque teve suas últimas oito rotas cassadas na quarta-feira, a licença da companhia para operar regularmente só expira em abril. Questionado por jornalistas se era viável renovar a concessão para uma empresa cheia de dívidas e incapaz de decolar, o brigadeiro Jorge Godinho, diretor-geral do DAC, reagiu com sutileza: "É uma dedução tão lógica que vocês já deram a resposta". Para ter a possibilidade de renovar a licença, a Vasp teria que apresentar uma certidão negativa de débito, esclareceu Godinho. Isso só seria possível com a quitação ou renegociação das dívidas com credores como a Infraero, responsável pela administração dos aeroportos do país, a quem a empresa de Wagner Canhedo deve R$ 12 milhões referentes a taxas somente do ano passado. No total, o débito atinge R$ 750 milhões. Godinho afirmou que o DAC ainda não encontrou uma solução para que outras companhias endossem os bilhetes dos passageiros com passagens emitidas pela Vasp. Ele teria reuniões, ontem, com os presidentes das demais empresas para tratar do assunto. Godinho ponderou, no entanto, que o órgão não tem "poder nem competência" para exigir que isso ocorra. O presidente da Varig, Carlos Luiz Martins, evitou comprometer-se a embarcar os passageiros que ainda detêm bilhetes da Vasp. "Ainda não tomamos uma decisão, mas estamos buscando uma solução para isso", afirmou. O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, lamentou o fim dos vôos da Vasp, mas ressaltou que a situação tornou-se insustentável para a empresa ao descumprir obrigações típicas de uma companhia de transporte aéreo regular. "Nós todos vamos sentir falta da Vasp", disse Alencar. "Ela é uma companhia com 70 anos de existência, que tem São Paulo na própria razão social. Não há quem não respeite uma companhia dessas, mas ela entrou em uma situação que já colocava em prejuízo os passageiros." Alencar afirmou que continua aberta a possibilidade de operação de vôos charter (fretados) para a Vasp, mas disse que a empresa precisa entrar com esse pedido no DAC. O brigadeiro Godinho observou que a empresa terá de demonstrar que poderá cumprir com o plano se vier a apresentar tal proposta. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), lembrou, ontem, que o estado de São Paulo é credor e já acionou a Vasp para ser ressarcido pelas dívidas não cumpridas pela empresa. O Estado de São Paulo detém ações minoritárias na Vasp, mas não tem participação na gestão ou na direção da empresa. Para o governador, o estado é credor. "O governo do Estado foi lesado porque quando foi feita a privatização, há 15 anos, a empresa assumiu a dívida que a Vasp tinha. Parte dessa dívida não foi paga e o governo do Estado teve que honrá-la", disse Alckmin, depois da abertura do 8º Seminário Cepam de Novos Prefeitos e Vereadores. Alckmin disse que o estado era avalista da Vasp e na falta de garantias suficientes, o governo de São Paulo teve que pagar a prestação. (Colaborou Jamil Nakad Junior, de São Paulo)