Título: BC vai comprar US$ 1 bi
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2011, Economia, p. 13

Na segunda medida do novo governo para conter a queda do dólar, a autoridade monetária volta ao mercado futuro

A persistente trajetória de valorização do real levou o Banco Central (BC) a recorrer a armas que não usava havia um ano e meio. No fim da tarde de ontem, a autoridade monetária consultou as corretoras para avaliar o interesse dos investidores por contratos de câmbio futuro, conhecidos como swap cambial reverso, nos quais o governo aposta na alta do dólar e os agentes financeiros, no avanço dos juros. A operação, recomendada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), vai significar, na prática, a compra de US$ 1 bilhão. Ela será feita num leilão programado para ocorrer entre 12h e 12h30 de hoje.

O BC pode usar recursos do Fundo Soberano Brasileiro (FSB), autorizado pelo Tesouro Nacional a realizar os contratos. A operação, que contou com o aval do Tribunal de Contas da União (TCU), tira do papel a segunda medida tomada pelo governo de Dilma Rousseff, em menos de sete dias, para estancar a queda da moeda norte-americana. Na primeira, o BC instituiu o depósito compulsório sobre operações de câmbio dos bancos a partir de abril. A nova iniciativa é um sinal de que as ações adotadas no ano passado não surtiram o efeito desejado.

A expectativa dos analistas é que a atuação do FSB amenize a queda do dólar, condicionada pela entrada maciça de investimentos no país. Ontem, a divisa recuou 0,48%, cotada a R$ 1,669, amargando a terceira desvalorização consecutiva. ¿É provável que tenhamos algum contrato com vencimento mais curto. Como os investidores querem esses papéis, possivelmente a operação vai segurar um pouco a queda do câmbio¿, comentou o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.

A queda do dólar em relação ao real foi ocasionada ontem pela frustração de expectativas que os agentes de mercado tinham em relação aos leilões de dívidas da Espanha e da Itália, além da piora no índice que mede os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos. ¿Os leilões não foram tão bons quanto o esperado e isso acabou mudando o humor do investidor¿, detalhou Serrano. Os negócios nos principais mercados acionários tiveram um dia de perdas. A BM&FBovespa apresentou queda de 1,27%, chegando aos 70.721 pontos. A Bolsa de Nova York recuou 0,2%.

Vencimento No leilão programado, o Banco Central vai oferecer até 20 mil contratos ao mercado. A maior parte (até 10 mil) terá vencimento em janeiro de 2012. Até sete mil serão oferecidos com data final em julho de 2011 e três mil terão prazos mais curtos, com término em abril deste ano.

Latinos ficam com fatura

A América Latina pode acabar pagando parte da fatura da crise fiscal na Zona do Euro (grupo de 17 nações que compartilham a moeda comum). A fuga de capitais da Europa e sua entrada maciça aqui vai prejudicar o robusto crescimento dos países latino-americanos, que atingiu 5,7% em 2010. A previsão foi feita pelo Banco Mundial (Bird), que estima em 4% a expansão da região em 2011, acompanhando a queda no ritmo global, projetado em 3,3% este ano.

A maior preocupação dos economistas do Bird é a Espanha, que mantém fortes vínculos financeiros com a região. Mas também há tensões relacionadas a Portugal, outro país que dá sinais de incapacidade de honrar as dívidas. Segundo o relatório divulgado ontem pelo Banco Mundial, como a América Latina tem relações comerciais e bancárias estreitas com a península ibérica, ¿poderá ser exposta a repercussões significativas se as condições nesses países se deteriorarem¿. Caso os bancos espanhóis e portugueses sejam obrigados a reestruturar sua dívida ou buscar recursos nas filiais latino-americanas, as linhas de crédito na região podem secar, o que afeta a capacidade de crescimento.

Fluxos No estudo, o Bird destaca que 13% do volume de investimento estrangeiro direto recebido pela América Latina em 2010 procedeu da Espanha e que os bancos espanhóis possuem 25% do mercado no México, Chile e Peru. Os economistas do organismo multilateral ressaltaram ainda que 95% dos fluxos de capital privado e 78% da compra dos títulos de curto prazo durante 2010 foram parar apenas em nove países: China, Brasil, Índia, Turquia, África do Sul, México, Indonésia, Tailândia e Malásia.

Como consequência, os países latino-americanos, que se saíram bem no combate à crise, estão sofrendo desequilíbrios cambiais. ¿Apesar dos esforços para frear a expansão monetária com taxas de juros mais altas e controles administrativos (incluindo impostos sobre fluxos de capital a curto prazo), muitas moedas na região se valorizaram abruptamente, o que prejudica a competitividade de suas exportações¿, assinala o texto. O Bird prevê crescimento de 4,4% para o Brasil.