Título: Alta no exterior faz Brasil exportar trigo
Autor: Rocha, Alda do Amaral; Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Agronegócios, p. B13

A forte alta do trigo no mercado internacional devido à quebra da safra em importantes regiões de produção do mundo gerou um fato inesperado: o Brasil, um dos maiores importadores globais do cereal, está exportando trigo. Segundo levantamento da corretora gaúcha Agromercado, o Rio Grande do Sul já tem comprometidas cerca de 300 mil toneladas de trigo para exportação. E, conforme Marcelo Baco, especialista em trigo da Agromercado, o país tem potencial para exportar o dobro disso nesta safra.

Ele informou que os embarques, destinados a países do norte da África, estão programados para dezembro. A colheita no Rio Grande do Sul ocorrerá entre outubro e novembro. "O Estado deverá colher cerca de 1,6 milhão de toneladas, para um consumo anual de 700 mil toneladas", disse Baco. Os preços negociados para exportação já atingem US$ 315 a tonelada (Fob). "Há oferta para US$ 330", afirmou.

Paulo Molinari, da Safras&Mercado, afirma que saíram negócios com trigo gaúcho a US$ 298 por tonelada e que ontem havia "comprador aberto" para US$ 305. "O mercado internacional está pagando mais do que o interno", observa. No Rio Grande do Sul, a tonelada está em R$ 550.

Segundo Baco, o Brasil ganhou espaço no mercado internacional por conta dos atrasos dos registros de exportação da Argentina, que ainda não foram liberados. O país vizinho é o principal fornecedor de trigo para o Brasil.

Nesta semana, a Agromercado recebeu consultas de países do leste asiático. "As exportações de trigo para Ásia só serão concluídas, se a safra da Austrália se confirmar em 13 milhões de toneladas", disse Baco. A Austrália fornece principalmente para os países da Ásia.

Ontem, o Conselho Internacional de Grãos reduziu em 9 milhões de toneladas sua estimativa para a safra australiana de trigo, para 13,5 milhões de toneladas.

A produção brasileira de trigo está estimada em torno de 3,5 milhões de toneladas, de acordo com a Safras&Mercado. As importações podem ficar entre 6,5 milhões e 8 milhões de toneladas, segundo analistas de mercado. "Apesar de realizar as exportações, o Brasil poderá voltar a ser o maior importador mundial de trigo, desbancando o Egito", disse Baco.

Ontem, o trigo, assim como a soja e o milho, voltou a registrar forte alta nos Estados Unidos. O contrato do cereal com vencimento em março subiu 14,50 centavos de dólar a US$ 9,3650 por bushel na bolsa de Chicago. Já a soja com vencimento em janeiro se valorizou ainda mais: 19 centavos de dólar e fechou a US$ 10,2525. O contrato de milho com vencimento em março teve alta de 11,50 centavos de dólar, encerrando a US$ 4,0225.

Na avaliação de Molinari, a confirmação da quebra da safra de trigo na Austrália puxa o mercado, que agora está atento às safras da Argentina e dos EUA.

E o nervosismo está em todo o mercado de grãos. O que deve ganhar força em 2008, acredita Molinari. Para ele, o mercado deve ser ainda mais especulativo que neste ano, e os preços do milho podem alcançar US$ 5,00 por bushel no cenário de soja na casa dos US$ 10 o bushel. A razão, diz, é que o avanço do milho sobre a área de soja em 2007/08 nos Estados Unidos provocou a queda da oferta da oleaginosa, reduzindo os estoques. Com essa queda nos estoques, para 6 milhões de toneladas, a tendência é que, em 2008/09, a soja acabe retomando área que foi "roubada" pelo milho nesta safra nos EUA, acrescenta. "Se não ampliaream a área e tiverem mais uma safra de soja de 71 milhões de toneladas, os EUA ficarão com estoques negativos e terão de importar".

Molinari observa que, historicamente, o preço da soja equivale a 2 vezes ou 2,2 vezes a cotação da soja. Quando o milho bateu US$ 4 por bushel, a soja estava na casa dos US$ 8 por bushel em Chicago. Portanto, ele não descarta que o milho chegue aos US$ 5. O preço recorde do milho na bolsa dos EUA foi registrado em 1996: US$ 5,42.