Título: Eletropaulo usa tecnologia contra o gato
Autor: Capela ,Maurício
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Empresas, p. B7

Bertoni (esquerda) e Silva Neto, diretores da Eletropaulo, querem reduzir perdas comerciais em 60% em até dez anos A maior distribuidora de energia da América Latina, a AES Eletropaulo, está disposta a combater as perdas comerciais de energia que atingem a sua área de concessão. Munida de um pacote tecnológico, que tem a medição eletrônica como a sua principal ferramenta, a companhia estuda investir ao redor de R$ 700 milhões em um prazo de dez anos na implementação do projeto para tentar reduzir em 60% as perdas anuais de R$ 500 milhões.

Com estréia marcada para os primeiros meses de 2008 na forma de um projeto piloto, a medição eletrônica passou os últimos anos sendo aprimorada no departamento de pesquisa e desenvolvimento da Eletropaulo no bairro paulistano do Cambuci. Agora, que já está praticamente pronta, a ferramenta vai a campo com o desafio de reduzir as perdas comerciais de 2,3 gigawatts/hora (GWh) de energia que a distribuidora registra todos os anos na sua área de concessão, ou seja, nos 24 municípios da Grande São Paulo.

Só para se ter uma idéia da relevância do desafio. Esses 2,3 GWh de energia poderiam iluminar durante um ano uma cidade com 300 mil habitantes. E caso fossem vendidos integralmente, os gigawatts acrescentariam R$ 500 milhões ao faturamento bruto anual de R$ 11,35 bilhões da distribuidora.

"Sabemos que é impossível zerarmos esse número. Mas temos como meta reduzi-lo em 60% em um período entre cinco e dez anos a partir da efetiva entrada da medição eletrônica", conta José Henrique Bertoni Júnior, diretor de Tecnologia e Serviços da AES Eletropaulo, ao Valor.

É claro que a perda anual da distribuidora é muito maior que esses 2,3 GWh. Mesmo porque esse montante representa apenas o volume comercial, que é de 5,6%. Somado, portanto, aos 6,5% da perda de origem técnica, chega-se ao volume total de 12,1%. "A questão técnica sempre vai existir e, por este motivo, este não é o foco da medição eletrônica", diz Arnaldo Silva Neto, diretor de Engenharia da Eletropaulo.

Mecanismo já bem usado pelas concessionárias de energia na Europa e nos Estados Unidos, a medição eletrônica constitui-se na troca do atual medidor eletromecânico pelo eletrônico e em outras medidas, como a blindagem das linhas de energia. Na prática, a troca desses medidores vai eliminar a necessidade de um funcionário ir até o local para ler o relógio de medição, porque as informações de consumo serão obtidas por meio dos cabos de fibra óptica da rede elétrica. Além disso, o sistema permitirá avisar à central de comando, que também fica no Cambuci, qualquer interferência na rede, como, por exemplo, o furto de energia feito diretamente no poste de luz. "Com esse medidor eletrônico e esse sistema, poderemos fazer cortes e ligações de energia da central de operações", acrescenta o diretor de Engenharia.

Mas para viabilizar todo esse aparato tecnológico a Eletropaulo precisará abrir o bolso. Só para se ter uma idéia dos valores envolvidos, a companhia imagina investir R$ 700 milhões para efetuar a troca do medidor, a blindagem da rede elétrica, a plataforma de comunicação para a leitura dos dados e a integração dos sistemas. Originalmente, a distribuidora deseja ligar por meio dessa tecnologia 1,4 milhão de clientes, ou 5,6 milhões de pessoas, a partir do primeiro semestre de 2009.

Agora, antes de abrir o bolso, a concessionária vai querer sentir o resultado do seu projeto na vida real. Em outras palavras, o sucesso da empreitada estará nas mãos do projeto piloto, que além de começar no início do ano que vem, vai receber investimentos de R$ 15 milhões para entrar em operação.

Segundo o diretor de Tecnologia e Serviços, o piloto será instalado na capital paulista, na periferia da Zona Leste ou da Zona Sul. E a explicação é simples. Como o projeto carece de ajustes técnicos práticos, a medição eletrônica experimental precisa ser feita em uma área próxima a uma subestação de energia para que se evite interferências próprias à distribuição do insumo pela rede elétrica. "As subestações têm poucas interconexões, o que favorece a medição eletrônica em 100%", conta o diretor de Engenharia.

Na verdade, a medição eletrônica já é feita atualmente pela AES Eletropaulo em uma pequena parte da sua base de 5,5 milhões de clientes, que abriga 16,5 milhões de pessoas. Segundo os executivos, esse ferramental é utilizado basicamente entre os consumidores de alta tensão, formado por cerca de 100 companhias, por uma parcela dos clientes de média tensão (comércio) e de baixa tensão (residências).

"Existem 80 prédios na capital paulista que já tem esse sistema, porque são edifícios novos e que o serviço já foi pedido pela própria construtora. Mas isso dá ao redor de 18 mil pessoas", conta o diretor de Tecnologia e Serviços. Segundo o executivo, a soma desses clientes aos de média e alta tensão faz com que a Eletropaulo tenha 20% da sua energia vendida nesse sistema. No entanto, a medição eletrônica ainda precisará de ajustes técnicos para que seja disseminada em escala maior.

Controlada pela holding Brasiliana, cujos acionistas são a americana AES (50,01%) e o BNDES (49,99%), a Eletropaulo ainda tem outros projetos sendo aprimorados pelo setor de pesquisa. Entre 2004 e 2009, a verba desse setor terá alcançado R$ 90 milhões