Título: Quintanilha recua de manobra pró-Renan mas ameaça protelação
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2007, Política, p. A8

Os protestos dos integrantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado forçaram o presidente do colegiado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), a recuar da decisão de unificar duas das três representações por suposta quebra de decoro em curso contra Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Entretanto, irritado com a contestação de sua autoridade, Quintanilha sinalizou que poderá empurrar para 2008 os próximos julgamentos: manteve as representações separadas, apenas com tramitação simultânea, e fixou prazo de 30 dias para que os pareceres sejam apresentados ao conselho. Avisou que esse prazo poderá ser ampliado, dependendo apenas dos relatores: "Não dou nenhuma garantia de que os processos serão votados em dezembro".

Em reunião tensa, de mais de três horas, a maioria dos integrantes do conselho reagiu fortemente contra a designação de Almeida Lima (PMDB-SE) como relator das representações 3 e 4, que Quintanilha pretendia unificar: uma sobre suposta sociedade oculta de Renan em veículos de comunicação de Alagoas e a outra, relativa a suposto esquema de cobrança irregular de recursos em ministérios comandados pelo PMDB.

Apesar das críticas, o presidente do conselho manteve Almeida como relator de um dos dois processos pendentes, a ser definido. O outro relator deverá ser designado hoje. Almeida lançou ameaças contra colegas que questionaram sua isenção para relatar processos contra o presidente do Senado.

"Quem vier questionar minhas condições morais e éticas vai ganhar sapatada. Topo até abrir o sigilo telefônico da última campanha. Tem gente que treme só de ouvir falar nisso. Quem vier com questão pessoal, sugiro abrir tudo da vida pregressa. Se isso soar como ameaça, não tem problema nenhum", disse.

Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos alvos de Almeida Lima, respondeu na hora. "Podem abrir todos os meus sigilos", disse. O pedetista havia dito que o Almeida poderia até ser isento na relatoria, "mas não vai parecer isento para a opinião pública". O sergipano também enfrentou o líder do DEM, José Agripino (RN), para quem a sua escolha para relator irá "potencializar as tensões na Casa". Almeida disse não ver em Agripino "condições morais e éticas superiores" às suas.

Sobrou até para Quintanilha, criticado por Almeida por ceder aos protestos contra a unificação das representações. "Eu, se fosse presidente do conselho, não voltaria atrás. Não estou aqui para ser desmoralizado", afirmou o sergipano.

Quintanilha havia decidido, por despacho pessoal, reunir as duas últimas representações, considerando haver conexão entre elas.

Para o líder do DEM, a unificação pretendida era uma "provocação" ao Senado. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) considerou a decisão "um escárnio". O líder do PSB, Renato Casagrande (ES) contestou a prerrogativa de Quintanilha e a possibilidade técnica da unificação. Marisa Serrano (PSDB-MS) achou inaceitável reunir em um só processo representações com foros diferentes de investigação: o das rádios é Alagoas e o dos ministérios, Brasília.

Ao final de uma reunião tensa, que durou mais de três horas, Quintanilha, irritado pelas pressões, ensaiou uma ameaça de renúncia ao cargo. "Se as decisões do presidente do conselho forem todas questionadas, os membros do conselho tem toda condição de escolher outro presidente", disse a jornalistas.