Título: Ritmo do PIB pode arrefecer em 2008
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2007, Brasil, p. A4

A economia brasileira continua crescendo de forma vigorosa neste terceiro trimestre do ano e pode encerrar o período com uma expansão próxima a 1,2% na comparação com o segundo trimestre e entre 4% a 5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, de acordo com projeções de economistas de institutos de pesquisa, consultoria e bancos ouvidos pelo Valor. Os números estimados apontam para uma taxa de crescimento econômico do país em 2007 na faixa de 4,6% a 5%, o que não ocorre desde 2004.

Esse ritmo forte, contudo, pode arrefecer em 2008. Os dados mais recentes de emprego e renda acenderam um sinal de alerta e alguns economistas avaliam que eles já embutem uma leve desaceleração no ritmo de crescimento.

Indústria e agricultura do lado da oferta e investimento e consumo do lado da demanda devem sustentar o ritmo do PIB deste ano, avalia o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira. Ele chama atenção, contudo, para a balança comercial. "O avanço das importações também tem sido muito expressivo em relação às exportações. Temos tido recentemente uma aceleração na queda do saldo comercial. Se isto continuar nos próximos meses, pode puxar o PIB para baixo. Se esse movimento for revertido e a balança melhorar, há chances de o PIB crescer até 5,5% este ano", avalia.

Bráulio Borges, da LCA Consultores mantém a projeção do PIB em 4,6% para o ano, sem revisão. Segundo ele, há um movimento de desaceleração do consumo em marcha. As vendas de automóveis - que estavam crescendo bastante - tiveram performance negativa em setembro na comparação com agosto. No comércio em geral também há desaceleração e a taxa de rendimento real das famílias, divulgada na pesquisa mensal de emprego do IBGE, que estava próxima de 5% no primeiro semestre, agora encolheu para 1%.

Borges lembra ainda que o poder aquisitivo das famílias mais pobres sofreu uma corrosão pelo repique do preço dos alimentos. "Estes são sintomas de redução do ritmo frenético da demanda interna", alerta. Na sua análise, o que puxou a produção industrial de agosto para cima foi a produção de bens de capital, que não é consumo, é investimento. Pelos seus cálculos, metade do crescimento previsto para a produção industrial deste ano (5,3%) será de bens de capital.

Aurélio Bicalho, economista da área de análise macroeconômica do banco Itaú, também aposta no investimento como âncora do crescimento econômico este ano. O Itaú prevê aumento de 4,7% do PIB este ano e estima 4% para 2008. A formação bruta de capital fixo (FBCF) deve avançar 9%. Segundo Bicalho, isto vai permitir que o investimento amplie a capacidade instalada da indústria e evite uma explosão do nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) das fábricas.

Ao analisar o comportamento da demanda, Bicalho concorda que a elevação do consumo doméstico ocorre a taxas elevadas. Parte disto vem sendo atendido pelo aumento das importações, e outra pela produção doméstica. Para o Itaú, os últimos dados do PIB não mostram desalinhamento entre oferta e demanda. "O PIB cresceu 1% no quarto trimestre de 2006 na comparação com o trimestre anterior, em dados dessazonalizados. Depois, cresceu 0,9% no primeiro trimestre de 2007 e 0,8% no segundo trimestre, na mesma série. Estas taxas de crescimento, quando anualizadas, são iguais ou inferiores a 4%, que é nossa estimativa de expansão do PIB potencial", diz Bicalho.

João Sicsú, diretor de macroeconomia do Ipea, comunga da análise de Bicalho e lamenta que, mesmo com as evidências de que a economia não está fora de rota, o Banco Central queira travar a Selic. "O investimento este ano vai crescer o dobro do PIB, o que é uma característica de crescimento sustentado com atenuante sobre qualquer ameaça de inflação de demanda. Neste quadro, é importante a queda do juro ser mantida."

A discussão macroeconômica sobre crescimento este ano está envolvendo as duas variáveis: investimento e consumo e acaba desembocando na política monetária. Para alguns economistas, como Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, que trabalha com um PIB de 4,8% para o ano, as encomendas de Natal deverão aquecer mais ainda a indústria. Neste contexto, ela estima que o Copom suspenda a trajetória de queda do juro básico da economia na próxima reunião para avaliar melhor o nível de atividade e a inflação.

Para ela, mesmo com a taxa de investimento atingindo 17,5% do PIB em dezembro, o patamar do nível de utilização da capacidade instalada da indústria pode subir a níveis perigosos. Juan Jensen, da área de macroeconomia da consultoria Tendências, também crê que o BC vá parar de cortar a Selic para avaliar os riscos de descompasso entre oferta e demanda, dissipando incertezas futuras.