Título: "Brasília é privilegiada"
Autor: Sakkis, Ariadne
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2011, Cidades, p. 24

Luís Otávio Neves assume a secretaria disposto a melhorar a atual estrutura do setor no Distrito Federal. Copa do Mundo de 2014 aparece como oportunidade para mudanças Luís Otávio Neves tem consciência da importância do trabalho que necessariamente terá de ser feito em Brasília até que 2014 chegue com a Copa do Mundo e os milhares de turistas que a acompanham em qualquer lugar do mundo. O novo chefe da Secretaria de Turismo do Distrito Federal tem nas mãos a tarefa de tornar a capital federal um lugar mais amigável a quem costuma reconhecê-la apenas como centro político do país. Para isso, terá de reverter um quadro pouco favorável. Monumentos danificados, falta de informação e de suporte ao turista, além de sinalização urbana insuficiente, encabeçam a lista das principais dificuldades encontradas no DF. ¿Precisamos fazer com que o turista que hoje só passa pela cidade queira ficar aqui¿, afirmou.

O secretário, no entanto, é bastante otimista. ¿O turista pode sair do Setor Hoteleiro Norte ou Sul e caminhar até o estádio de futebol e outros pontos turísticos principais. Em qual outra cidade você pode fazer isso? Brasília é uma cidade privilegiada em termos de estrutura¿, disse. Ainda assim, o titular da pasta reconhece que a cidade ainda não está preparada, mas há de estar em três anos. Capacitação de profissionais ¿ desde o ensino de inglês a taxistas até a formação de marceneiros para as obras ¿, revitalização dos centros turísticos tradicionais, promoção de novos destinos e retomada de iniciativas engavetadas. como o Projeto Orla, que deve ser retomado neste ano, constituem as prioridades do setor. ¿Cidade boa para população é cidade boa para o turista¿, defendeu.

Para tanto, a Secretaria de Turismo do DF terá de ser recomposta. Quando assumiu, Neves se viu diante de 75 funcionários com cargos comissionados contra apenas cinco servidores de carreira. Metade dos comissionados acabou demitida pelo governador Agnelo Queiroz. ¿Teremos de realizar concurso, principalmente para turismólogo, coisa que nunca foi feita antes¿, explicou. Ainda não há estimativa de quando o edital será lançado e de quantas vagas serão abertas. O desenvolvimento dos projetos depende também da articulação com outras secretarias, em especial a de Cultura, a de Obras, a de Trabalho e a de Fazenda, sem contar com os convênios firmados com o governo federal por meio do Ministério da Cultura. ¿Hoje, temos um orçamento na ordem de R$ 32 milhões, correspondente a 0,25% da arrecadação do GDF. No ano que vem, queremos ampliar os recursos para, pelo menos, 2%, o que também não é nada absurdo¿, avaliou.

Os mecanismos intrínsecos ao exercício do turismo não são novidade para Neves. Antes de ser secretário, ele havia trabalhado na pasta como diretor de Captação e Eventos da Secretaria de Turismo do DF durante o governo de Cristovam Buarque, entre 1995 e 1999. Trará as experiências obtidas enquanto desenvolveu ações de marketing promocional do Brasil no exterior para o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e dos tempos em que serviu de conselheiro da Unesco para divulgação das cidades brasileiras tombadas como Patrimônio Cultural da Humanidade, função exercida entre 2003 e 2005.

Confira os principais pontos da entrevista que o secretário concedeu ao Correio:

Pontos turísticos O grande problema que encontramos até agora é o estado dos atrativos turísticos. Em termos de conservação, há muitas coisas estragadas, abandonadas. Me chamou a atenção o estado crítico da Torre de TV. Acredito que o desleixo com os monumentos é recente. Temos problemas estruturais e de sinalização. O turista que chega na cidade, se estiver sozinho, não se acha. A nossa sinalização turística é zero. Inclusive a sinalização internacional está precária. Já pedi uma audiência com o diretor do Departamento de Trânsito do DF, José Alves Bezerra, para conversar sobre a implementação dessas placas. Precisamos guiar os turistas.

Incentivos Temos muito o que trabalhar com a Secretaria de Obras do DF para revitalizar os monumentos e os atrativos. Já conversei, por exemplo, com a Administração Regional de Brasília sobre a possibilidade de ter uma atração cultural no Parque da Cidade no fim da tarde, a exemplo do que cidades litorâneas têm. Ali, temos público de Brasília e tem os turistas que se hospedam no Setor Hoteleiro Sul, que podem caminhar até lá. Precisamos rever, no próprio parque, a questão dos permissionários, como a piscina de ondas, o pedalinho, a academia. Através do Condetur (Conselho de Turismo do Distrito Federal), que congrega entidades de governo e da sociedade civil, também podemos discutir as expectativas de cada setor ¿ governo, empresas e sociedades ¿ e encontrar soluções.

Copa do Mundo I Vamos começar a trabalhar a questão da infraestrutura e da capacitação de mão de obra, desde o ensino de inglês para taxistas até marceneiros para fazer um estande. Haverá muita demanda. A minha maior preocupação não é com o evento. Sim, certamente, dará muito trabalho, mas estou mais preocupado com o pós-evento. Depois da Copa, como vai ficar essa mão de obra? A cidade tem que continuar a receber turistas e a dar continuidade à quantidade de empregos que vão ser gerados durante a Copa, que é um evento de um mês. O Ministério do Turismo, inclusive, já está estudando a situação da África do Sul depois do evento, para se ter uma ideia.

Copa do Mundo II Estou confiante no desempenho da cidade. Temos o terceiro maior polo gastronômico do Brasil. Temos o terceiro maior aeroporto do Brasil. O torcedor poderá ir ao jogo a pé. Isso não existe em nenhum outro lugar do mundo. Vamos fazer um corredor de atividades, que sairá da Rodoviária do Plano Piloto e chegará até o estádio Mané Garrincha. Brasília tem tudo para receber o evento e sediar a abertura da Copa. Grandes eventos já aconteceram em Brasília, mas não dá para comparar com Rio de Janeiro e São Paulo porque eles recebem eventos grandes o tempo inteiro.

Copa do Mundo III Um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas feito durante a Copa sobre o conhecimento das cidades brasileiras por estrangeiros colocou Brasília como a terceira cidade reconhecida, atrás de Rio e São Paulo. Isso é muito importante para nós e mostra o destaque da cidade. Milhares de turistas vão chegar aqui e para nós isso tem de ser uma oportunidade de negócios, de experiência. Em média, cada torcedor gasta cerca de US$ 12 mil. Não podemos ficar de fora e, para isso, é preciso colocar a casa em dia, preparar a cidade.

Recursos Esse ano, nosso orçamento está muito prejudicado. Mas, no ano que vem, vamos precisar muito aumentar os repasses. Hoje, temos 0,25% da arrecadação do GDF, o que dá cerca de R$ 32 milhões. Queremos chegar a, pelo menos, 2% do total, o que não é nenhum absurdo. Fora esse orçamento, temos que fazer parcerias com os Ministério do Trabalho e do Turismo, além das secretarias e das administrações.

Conquista Por ano, o Aeroporto Internacional de Brasília recebe 1 milhão de passageiros. Desses, apenas 10% ficam na cidade. Isso é muito pouco. A maioria apenas passa em Brasília. O nosso desafio é fazer com que esse passageiro passe dois, três dias conhecendo a cidade. Precisamos conquistar o turista, fazer com que ele tenha vontade de permanecer na cidade.

E saia falando bem. Para fazer isso, temos que ter um conjunto de ações que funcionem. Para o primeiro ano, vamos trabalhar a infraestrutura e arrumar a casa para começar a promover a cidade.

Concurso Quando cheguei, vi que a secretaria tem cinco servidores de carreira, sendo que três estavam em férias. Enquanto isso, tínhamos 75 comissionados e foi preciso cortar pelo menos a metade. Tudo o que a gente precisa fazer é concurso para turismólogo, o que nunca aconteceu em Brasília. Se não tivermos funcionários de carreira, nunca haverá continuidade no trabalho. Tivemos comissionados que foram para a África do Sul depois da Copa, mas que foram embora (com o novo governo). O conhecimento adquirido foi com eles. Isso não pode acontecer.

Projeto Orla Vamos retomar o projeto. Hoje, ele existe no Pontão, que é o Polo 11. Ele foi terceirizado, funciona com concessão de uso. O Polo 3, da Concha Acústica, tem um projeto grande e bastante ousado. Vamos acertar com a Secretaria de Obras o que será possível fazer. Mas, a pedido do governador Agnelo Queiroz vamos retomar o projeto o quanto antes ¿ a princípio, já neste primeiro semestre. Mas, como é um projeto grande, ainda não sabemos se vamos executá-lo integralmente. Será uma ação entre Secretaria de Turismo, Administração de Brasília e Secretaria de Obras. Existe a ideia de ampliar o projeto para a Prainha. O que temos que fazer é democratizar o acesso ao Lago Paranoá.