Título: Renovação de frotas aquece mercado de caminhões
Autor: Durão , Vera Saavedra ; Góes , Francisco
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2007, Especial, p. B7

Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões: de janeiro a agosto deste ano, as vendas de caminhões foram 30% superiores a igual período de 2006 O início da construção do porto do Açu, da mineradora MMX, em São João da Barra (RJ), vai demandar no mínimo cem caminhões pesados para transportar pedras de seis toneladas de uma pedreira próxima do município de Campos até as obras, um trajeto de 76 quilômetros. O relato de Luiz Fernando Santos Dias, presidente do Sindicato da Construção Pesada (Sinicom), é um exemplo do "boom" existente na procura por caminhões pesados para a frota de grandes empresas brasileiras de diversos setores. Na Volkswagen Caminhões e Ônibus, a procura surpreendeu. O presidente Roberto Cortes informa que, de janeiro a agosto, as vendas cresceram 30% em relação ao mesmo período do ano passado.

A DM Transportes e Logística Internacional S.A., com sede em Eldorado do Sul (RS), está aproveitando os benefícios do crescimento econômico e renovando sua frota. Ricardo Mincarone, diretor-geral da empresa, disse ao Valor que está investindo R$ 15 milhões na compra de 40 caminhões, incluindo cavalos-mecânicos da Iveco e carretas da Guerra.O investimento é financiado pela Finame, com carência de um ano e prazo de 60 meses para pagamento. O custo total da operação é de 9,5% ao ano. "O custo é compatível com a atividade", avaliou Mincarone.

O plano da transportadora, que atua no transporte entre Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, é continuar a renovação da frota em 2008, quando devem ser substituídos outros 40 caminhões. A DM tem frota própria de 250 veículos, que respondem por cerca de 90% das necessidades da empresa. Outros 10% são contratados com terceiros. A renovação em curso deve reduzir a idade média da frota da DM de 5,3 anos para 4,3 anos. "O ideal é que os caminhões cheguem à idade máxima de uso de 5 a 6 anos", planeja Mincarone. Alguns veículos da empresa têm idade de 10 anos. Em 2007, a empresa deve faturar R$ 70 milhões.

Iniciativas como as da DM repercutem diretamente na indústria automobilística. Na Volkswagen, Roberto Cortes informou que a demanda está superando a expectativa da empresa para 2007. A previsão inicial da montadora era crescer entre 10% e 15% este ano em volume de vendas na comparação com 2006. Segundo Cortes, a empresa deve fechar o ano com crescimento entre 20% e 25% nas vendas sobre 2006, mesmo percentual estimado por ele para a expansão do setor.

"O crescimento mais forte se verifica nos segmentos de agrobusiness, construção civil e mineração, que cresceram 40%", diz Cortes. O agronegócio demanda caminhões pesados e extrapesados, com capacidade para transportar entre 17 e 57 toneladas. Todos estes caminhões são financiados pela linha Finame, do BNDES.

Cláudio Bernardo Guimarães de Moraes, superintendente da área de Operações Indiretas do BNDES, que atua através dos agentes financeiros, prevê que os financiamentos para a compra de caminhões pela Finame possa fechar o ano na faixa de R$ 10 a R$ 11 bilhões, depois de ter batido recorde de desembolso de quase R$ 5 bilhões até agosto. As grandes transportadoras responderam por quase 80% deste valor nos oito meses do ano.

"A demanda aquecida do mercado interno está se refletindo no aumento do volume de carga transportada e a produção de caminhões tem um efeito positivo no crescimento da produção industrial", avaliou Moraes. A seu ver, a economia está ativada e tem um efeito multiplicador sobre a cadeia de transportes. A frota brasileira de caminhões, informa ele, tem idade média de 14 anos, necessita de uma renovação, e um cenário macroeconômico mais estável impulsiona esta mudança.

Por atividade, os grandes tomadores dessa linha da Finame foram os setores de construção (R$ 235 milhões ou 230% a mais que no mesmo período de 2006), alimentos e bebidas (R$ 193 milhões ou 196% acima do ano passado), comércio atacadista e varejista (que demandaram 261% e 248% a mais em crédito, respectivamente), e o agronegócio, com destaque para a cadeia do etanol, tomador de 196% a mais em recursos do banco para a compra de veículos de carga.

Com o mercado aquecido, a Volkswagen Caminhões pretende passar para novo patamar operacional na fábrica de Resende (RJ), a partir de janeiro de 2008. A produção de caminhões e ônibus passará de 190 unidades/dia para 210 unidades/dia. O incremento será possível graças a investimento de US$ 25 milhões em um centro logístico, que permitirá desafogar a linha de montagem, explica Cortes.

Em algumas linhas de produtos, a montadora tem encomendas colocadas até dezembro, com entregas só a partir de janeiro, diz o presidente. Isso ocorre nos segmentos mais aquecidos, como agricultura, mineração e construção, cuja espera por um caminhão pode levar até três meses. Em outros segmentos, a rede de 140 revendas da Volkswagen no país tem disponibilidade de pronta entrega.

Na Volvo, uma das maiores produtoras de caminhões pesados, a fila de espera já chegou em março do próximo ano. Precisa de mais paciência o cliente que quer comprar o modelo 6 x 4, bastante usado no transporte de cana-de-açúcar. Num cenário de demanda normal, o prazo de entrega desse tipo de produto é de 90 meses, explica Bernardo Fedalto, gerente da área de caminhões da montadora sueca, que tem fábrica em Curitiba.

A Volvo lamenta não ter conseguido acompanhar o crescimento da demanda no segmento dos modelos pesados, que registra no acumulado deste ano avanço de 39%. A produção na montadora depende de peças fornecidas pela Suécia, que também está atolada de pedidos por conta de crescimento da demanda européia. Com isso, a montadora perdeu participação de mercado. A Mercedes-Benz , por sua vez, se deu bem e está hoje na liderança do segmento de pesados.

Fedalto explica que, além da expansão de setores como o agronegócio, a explosão do setor se sustenta justamente na facilidade de financiamento. "As taxas do Finame estão atrativas", afirma o executivo. Segundo a avaliação de Fedalto, esse cenário provocou a migração dos negócios de leasing, CDC e consórcio para os planos do BNDES. Isso faz com que o aumento do volume de recursos liberados pelo banco seja superior ao das vendas de caminhões. "Quem não deve impostos procura o BNDES", diz.

Apesar de ter sido surpreendido pelo fenômeno, o banco estatal, ao contrário das montadoras, não tem tido fila para financiar caminhões. "Tudo o que está vindo está sendo aprovado e liberado", explica Moraes. As condições de financiamento desta linha da Finame, que opera através de agentes financeiros, são de TJLP mais spread de 1%, mais a remuneração do agente financeiro que é livre para as micro, pequenas e médias empresas.

Já para as grandes, que faturam acima de R$ 60 milhões, o custo do financiamento é TJLP mais spread de 2,3% ao ano e mais o spread do agente. O prazo de financiamento é de até 60 meses para todos os clientes. Além dos R$ 4,8 bilhões liberados para caminhões, o banco também desembolsou, até agosto, R$ 2 bilhões para ônibus - 78% acima do valor de 2006. (Colaborou Marli Olmos, de São Paulo)