Título: Wagner apóia proposta para a CPMF que Aécio levará hoje a Lula
Autor: César Felício e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Política, p. A14

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), defendeu ontem que o governo federal tente reabrir com a oposição a negociação para aprovar a emenda que prorroga a CPMF levando em conta a proposta feita pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), de ampliar de 25% para 46% o repasse para os Estados dos recursos da Cide, o imposto sobre o combustível, com a transferência da manutenção das estradas.

"A proposta de Aécio tem começo, meio e fim. Proporcionaria recursos adicionais de R$ 1,3 bilhão e significaria o governo federal transferir para os governadores a gestão dos investimentos da infra-estrutura, porque quem tem dinheiro, manda. É do jogo político. Negociar assim seria negociar por cima", disse o petista.

A proposta de Aécio já tem a adesão do governador paulista, José Serra, e foi discutida entre os três governadores durante viagem à Suíça, na semana passada, quando o Brasil foi oficializado como sede da Copa do Mundo de 2014. Wagner saiu em sua defesa depois de saber que a bancada do PSDB no Senado decidiu votar contra a CPMF, na tarde de ontem.

Hoje, em Belo Horizonte, Lula deve discutir o assunto com Aécio. O mineiro já se declarou favorável à prorrogação e havia recomendado que os senadores tucanos evitassem tomar a decisão de votar contra a proposta. Além do compartilhamento da Cide, o governador mineiro coloca outros condicionantes.

Segundo Aécio, a discussão da prorrogação da CPMF precisa passar por garantias de que os recursos serão bem aplicados. "A Lei de Responsabilidade Fiscal não pode valer só para os Estados", afirmou. O governo federal, destacou o governador de Minas, também precisa de mecanismos de controle. Uma das contrapartidas sugeridas por ele é a redução da cobrança de PIS/Cofins em saneamento básico.

Aécio Neves e o governador de São Paulo, José Serra, os dois presidenciáveis pelo PSDB, são os principais aliados tucanos na luta do governo federal para aprovar a prorrogação da CPMF. Além de temer a redução de repasses federais para seus respectivos Estados, Aécio e Serra preferem garantir a receita da contribuição provisória no Orçamento da União já que trabalham com a possibilidade de disputarem a Presidência em 2010.

Lula e Aécio se encontram hoje na cerimônia de inauguração do Centro de Especialidades Médicas Dario Faria. O hospital foi construído com recursos estaduais e federais no espaço onde, por muitos anos, havia apenas o esqueleto abandonado do prédio que havia sido planejado para sediar um instituto do coração. Será boa oportunidade para Lula defender a necessidade de mais recursos para a pasta da Saúde.

O governador baiano, que foi coordenador político do governo Lula em 2005, disse que conversou sobre a aprovação da emenda, de forma separada, tanto com Aécio quanto com Serra. "Protestar contra a CPMF alegando aumento da carga não tem aderência popular. Se o governo aumenta a isenção para as contas-salário, diminui a rejeição popular contra o tributo. Em 1994, quebramos a cara quando fomos contra o Plano Real. Tirar R$ 40 bilhões agora é brecar um processo de crescimento. Era bom que a oposição aprendesse com os nossos erros, para não repeti-los", afirmou Wagner.

Crítico da tese de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador baiano condenou ontem também a proposta de prorrogação dos mandatos por um ano, em troca do fim da reeleição. Afirmou que a fórmula só seria admissível para os escolhidos na próxima eleição. "Não acho sensato, se depender de mim, será impossível. É um casuísmo complicado", disse, colocando-se como uma das possibilidades dentro do PT para a sucessão presidencial em 2010.

"Hoje o PT não tem nomes. Em 2006, eu ganhei a eleição no Estado contra todas as apostas. Para o futuro, se eu governar bem, vamos ver. Não vou descartar meu nome. Mas se você perguntar se estou rodando o País em função disso, ou articulando isto internamente, a resposta é não", disse Wagner, citando outros presidenciáveis dentro da sigla: "Obviamente a ministra do Turismo, Marta Suplicy, precisa ser considerada, pela grande votação dela em São Paulo. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pode ser o símbolo da gestão Lula no segundo mandato. O governador do Sergipe, Marcelo Déda, tem trânsito em todos os partidos da base. O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, está no comando do maior programa social do governo", relacionou.

Já sobre a hipótese de o PT não ter candidato próprio em 2010, Wagner se mostrou cético. "O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é um bom nome. Como possibilidade, ele entra na lista. Como probabilidade, conhecendo o PT como eu conheço, não creio", afirmou. Para o governador, "a tese de que o PT pode não manter o seu tamanho atual sem um candidato próprio é muito forte dentro do partido. Partido se faz com pessoas que personalizam o projeto, foi assim que todos os partidos cresceram", disse.

O governador admitiu, contudo, que a existência de dois candidatos ou mais dentro da base governista favorecerá o PSDB em 2010. "Dois candidatos forçam o presidente à eqüidistância, além de desencadear uma disputa dentro da mesma faixa de eleitores. Depois fica difícil unir em um segundo turno. O ideal é trabalhar pela unidade", comentou.

A divisão da base é a situação que Wagner tenta evitar na eleição para prefeito de Salvador em 2008. O prefeito João Henrique (PMDB) é candidato à reeleição e o PT divide-se entre as candidaturas dos deputados Nelson Pellegrino e Walter Pinheiro.