Título: O jogo, na Câmara, começa agora
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Política, p. A6

Os partidários de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara acreditam que a candidatura avulsa de Virgílio Guimarães (PT-MG) começa a esvaziar-se nesta terça-feira. Hoje, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reúne-se com os líderes para lhes comunicar oficialmente o que cabe a cada partido na Mesa da Câmara, obedecendo-se o critério da proporcionalidade. Por esse critério, o PT, com 90 deputados, tem direito à presidência. O PMDB, com 78, pode postular a 1ª Vice-Presidência ou a 1ª Secretaria. É provável que deseje ficar com a 1ª Secretaria. Com 62 deputados, o PFL pode ficar com a 1ª Vice-Presidência. O PSDB, que detém a quinta maior bancada (52 representantes), possivelmente indicará o 3º Secretário. Definida a partilha, as bancadas dos partidos vão indicar seus candidatos oficiais. O momento seguinte será o de pedir votos às outras siglas para eleger seus escolhidos. Para eleger o deputado Eduardo Gomes, provável candidato à 3ª Secretaria da Câmara, os tucanos precisarão do apoio do PT. Em troca dos votos para Gomes, os petistas pedirão apoio, claro, para a eleição de Greenhalgh. Os pefelistas podem indicar Robson Tuma para a 1ª Vice-Presidência, mas só o elegerão se tiverem a ajuda do PT, que, em contrapartida, exigirá votos para Greenhalgh. Trata-se de um acordo de procedimentos. Se um partido decidir não apoiar o candidato oficial do PT, correrá o risco de ficar sem representação na Mesa da Câmara. "O jogo começa hoje. Até agora, o que tivemos foram os treinos", diz o deputado Paulo Bernardo (PT-PR). O PFL, por exemplo, mesmo tendo em José Carlos Aleluia (BA) um candidato avulso à presidência, como sempre teve o PT nos anos de oposição, deverá fazer uma indicação para a Mesa. Provavelmente, uma boa parcela dos pefelistas deverá votar em Aleluia, mas uma outra escolherá Greenhalgh em troca do apoio do PT ao seu candidato oficial para compor a Mesa. As negociações desses acordos de procedimento tenderão, segundo os petistas, a encolher a candidatura de Virgílio, na medida em que ele dependerá dos votos dissidentes em cada um dos partidos com representação na Mesa. O que pesa em favor de Virgílio é o voto secreto. Nos últimos dias, parlamentares têm mencionado frase atribuída a Tancredo Neves - "O voto secreto é uma vontade de trair" - para exaltar as chances do petista dissidente. Paulo Bernardo acredita que, feitos os acordos, apenas um movimento de traição em massa elegeria Virgílio. "Isso não vai acontecer. Acabaria com qualquer possibilidade de diálogo dentro da Câmara", pondera Bernardo.

Petistas apostam no encolhimento de Virgílio

A blindagem de Olívio Dutra É cada dia mais remota a possibilidade de o presidente Lula tirar Olívio Dutra do Ministério das Cidades, na reforma ministerial aguardada para depois do Carnaval. Segundo avaliação de um ministro muito próximo do presidente, o que hoje "blinda" Olívio não é exatamente a relação de amizade que este tem com Lula, mas sim um conjunto de organizações da sociedade que aguardaram dois anos para que o ministério fosse montado. Nesse período, foram definidas as regras de investimento em saneamento básico e desenvolvimento das Cidades. Teme-se, agora, que a troca de ministros leve tudo à estaca zero. A grande maioria dos prefeitos que assumiram em 1° de janeiro é contra uma mudança no comando da pasta. Eles são os destinatários das verbas de investimentos do ministério e já fizeram chegar ao governo federal a preocupação com uma eventual paralisação que ocorrerá caso Olívio Dutra seja vitimado pela reforma ministerial. Irritado, mas firme no rumo escolhido O presidente Lula ficou, sim, irritado com a escalada recente dos juros básicos, promovida pelo Banco Central. Na última decisão, conta um ministro do núcleo do poder em Brasília, o agastamento foi maior porque os jornais estamparam na primeira página: "Brasil, campeão mundial de juros". "Não há nada que irrite mais o presidente do que essa afirmação", conta esse ministro. A exasperação, no entanto, nunca se traduziu em mudanças no rumo da política econômica. Lula conversa com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, recebe as explicações e renova o apoio e a confiança no caminho escolhido. "No fim, o bem sempre prevalece sobre o mal", brinca um auxiliar do presidente.