Título: Petróleo fica acima de US$ 86 nos EUA e ultrapassa a cotação de 1981
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Empresas, p. B1

O preço do barril de petróleo disparou nos principais mercados do mundo ontem. A alta foi tão forte que não só ultrapassou a barreira dos US$ 86, como também deixou para trás uma marca histórica conseguida ainda durante os anos subseqüentes ao segundo choque do petróleo. Ajustada pela inflação do período, a cotação de US$ 37,48 de março de 1981, uma das maiores do produto e fruto da decisão do Irã de suspender suas exportações, seria hoje de US$ 84,73.

Mesmo superando o patamar histórico, a forte valorização de ontem ainda não foi suficiente para bater o recorde, registrado na década de 70. A cotação da época, trazida a valores de hoje, teria superado os US$ 90, constituindo-se na maior da história.

Apesar dos poucos dólares que separam o valor recorde da cotação de ontem, o fato é que analistas ouvidos pelo Valor são unânimes em dizer que o produto deverá se valorizar cada vez mais. "O preço desta commodity assumiu um movimento paulatino e crescente de preços", afirma o professor James Wright, coordenador da Fundação Instituto de Administração (FIA).

A julgar pelos números deste ano, a percepção do professor Wright está correta. Entre o último dia útil de 2006 e ontem, o produto do tipo WTI negociado na Bolsa Mercantil de Nova York acumulou valorização de 41,08%. Já o barril do tipo Brent vendido na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres teve alta de 35,97% no mesmo período.

A escalada de preços da commodity, que teve o contrato para novembro deste ano negociado ontem a US$ 86,13 em Nova York, o que significou um acréscimo de US$ 2,44, não tem uma única explicação. É, na verdade, uma combinação de fatores geopolíticos e econômicos que empurra a cotação para valores poucas vezes visto na sua história. Tanto é assim que o mesmo cenário é visto em Londres, onde o produto do tipo Brent foi comercializado ontem a US$ 82,75, alta de US$ 2,20.

Para o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a commodity somente alcança estes valores porque conta com a forte participação de fundos de investimento. Segundo Pires, o valor de hoje difere do preço registrado à época do choque do petróleo justamente pela ação do mercado financeiro.

"Para mim, pelo menos 25% do preço do petróleo no mundo, e principalmente aquele registrado em Nova York, é fruto da especulação financeira", afirma o diretor da CBIE. "E o produto só está alto agora porque há uma efetiva realização de lucros por parte destes fundos", completa.

Só que os investidores em questão encontram algum arsenal no mundo real para realizarem seus movimentos de compra e venda de posições de petróleo. Um desses sinais é a atual situação dos estoques nos Estados Unidos, que aponta para mais redução. Depois, há o temor de que a Turquia faça uma incursão militar contra as guerrilhas curdas no Iraque. E como o Iraque tem a terceira maior reserva de petróleo no mundo, mais um conflito por lá poderia desencadear nova onda de violência, prejudicando a extração do óleo.

Lucas Brendler, analista de Investimento da Geração Futuro Corretora, lembra também que o equilíbrio atual entre oferta e demanda favorece os altos preços do produto. Hoje, a produção diária de petróleo beira os 85 milhões de barris, sendo que o consumo é praticamente igual. "Além disso, há problemas para se aumentar a capacidade de refino no mundo", acrescenta o analista.

Sem poder incrementar do dia para noite a capacidade produtiva e com os estoques americanos em baixa justamente nos meses que antecedem o inverno no Hemisfério Norte, período em que há grande demanda pelo óleo de aquecimento para o sistema de calefação, os analistas já começam a fazer contas e revisar suas previsões de preço. Lucas Brendler, por exemplo, calcula que o preço médio do barril tipo Brent em 2007 será de US$ 69 e não mais de US$ 65. E arrisca dizer que em 2008, como vale o mesmo raciocínio de aperto, o valor médio será de US$ 70.

Visão parecida tem o Citigroup. Segundo a instituição, o valor médio da commodity deverá ser também de US$ 70 em 2008. "O enfraquecimento do dólar tem contribuído para os recordes recentes", afirma Gil Yang, analista do Citigroup. E já que o ganho é financeiro, as ações preferenciais da Petrobras sentiram a alta do produto e foram o terceiro papel mais valorizado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem, com alta de 3,64, cotadas a R$ 67,10.