Título: Coutinho busca aportes para o BNDES
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2007, Finanças, p. C7

A crescente demanda do empresariado brasileiro por recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai levar o presidente da instituição, Luciano Coutinho, a procurar instituições multilaterais na tentativa de conseguir aportes para reforçar o caixa do banco. Na pauta de Coutinho está a tentativa de conseguir "pelo menos" US$ 2 bilhões junto ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Coutinho embarca hoje para Washington, nos Estados Unidos, para participar do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. "Vou a Washington para estudar também a situação da economia mundial depois da crise do subprime, mas um dos objetivos específicos da minha viagem é levantar recursos para o BNDES", afirmou.

As aprovações de financiamento nos 12 meses encerrados em setembro somaram R$ 89,13 bilhões, enquanto os desembolsos em igual período chegaram a R$ 62,5 bilhões. O hiato existente obriga o banco, segundo Coutinho, buscar novas formas de suprir a necessidade de recursos.

Apesar de admitir que o funding da instituição vai estar "sob pressão", Coutinho garantiu que o banco tem condições de suprir as necessidades de forma "satisfatória".

"A pior coisa para um banco de investimento é ter dinheiro sobrando. Quando falta dinheiro é porque tem muita demanda", ressaltou. "Temos obrigação de correr atrás, de complementar, e vamos ter que fazer esforço".

Segundo Coutinho, nos próximos dois anos o banco terá que ampliar sua escala de operação para suportar o volume de projetos aprovados. "Nunca o banco teve um gap tão grande entre os projetos aprovados e o volume de desembolso", afirmou, no seminário "Perspectivas para o desenvolvimento e inovação tecnológica", organizada pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

Para ampliar a capacidade de financiamento, Coutinho conta não apenas com negociações com organismos multilaterais, mas também com negociações com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para aumentar o volume de recursos disponíveis para o banco. Além disso, advoga uma elevação do repasse de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), ao qual o BNDES tem direito constitucional.

O presidente do Banco lembra ainda de outra carta na manga da instituição de fomento. Na visão dele, o BNDES pode estimular operações nos mercados de ações e debêntures. Já fez isto no primeiro semestre, captando R$ 1,5 bilhão. Coutinho revelou que em breve a instituição vai começar a divulgar o valor de operações de captação de recursos no mercado de capitais que contam com algum tipo de apoio do BNDES e não entram na atual conta de volume desembolsado pela instituição.

"O BNDES é o principal financiador de longo prazo e o mercado de capitais está ajudando agora as empresas com melhor governança corporativa", ponderou.

Na visão de Coutinho, o banco pode utilizar o BNDESPar, seu braço de participações, para aliviar a pressão sobre o funding da instituição, sem reduzir o apoio à expansão e à modernização das empresas.

"O BNDESPar pode ajudar uma empresa a abrir mais o seu capital e gostaríamos também de melhorar a liquidez do mercado secundário de debêntures. O que nos interessa é viabilizar um fluxo firme de investimentos para o setor privado e o setor público", afirmou Coutinho.

O presidente do BNDES evitou fazer projeções, mas garantiu que os desembolsos no ano que vem continuarão crescendo. "Se vão chegar (os desembolsos) a R$ 70 bilhões ou R$ 68 bilhões, isso é menos relevante do que os investimentos que o BNDES vai induzir", ponderou. Este ano, até setembro, o banco desembolsou R$ 41,8 bilhões. A previsão "teto" de orçamento do banco para 2007 é de R$ 62 bilhões.