Título: Projeto de US$ 600 milhões cria rede sem fio da Embratel
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2007, Empresas, p. B3

Ter US$ 600 milhões para investir seria motivo de comemoração em qualquer empresa. Mas a Embratel, que vai desembolsar esse montante na construção de uma rede de banda larga sem fio, prefere manter o assunto longe dos holofotes.

A declaração de um executivo da operadora sobre o projeto, feita na semana passada num evento em Curitiba, despertou na Embratel uma reação surpreendente.

Numa apresentação ao escritório paranaense da Câmara Americana de Comércio (Amcham) no dia 19, o diretor de vendas da Embratel, Flávio Augusto Gomes, disse que a operadora destinaria US$ 600 milhões para construir uma rede de banda larga sem fio no padrão tecnológico conhecido pela sigla WiMax. Segundo o executivo, até março a tecnologia estaria disponível em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Campo Grande, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza.

A notícia é positiva para a companhia - ela significa que a Embratel será a primeira das grandes teles a oferecer esse produto em larga escala, com licenças adquiridas da Anatel alguns anos atrás.

Como detém autorização para atuar em todo o território nacional com as freqüências propícias ao WiMax, a operadora está à frente de suas rivais. As concessionárias de telefonia local - Telefônica, Oi e Brasil Telecom - não têm licença nacional para oferecer a tecnologia e aguardam a retomada de um polêmico leilão de novas licenças que há meses está suspenso.

Apesar dessa situação confortável, a operadora resolveu abafar o assunto e negar discretamente a informação fornecida por seu executivo. Por conta das afirmações que fez, o diretor da Embratel esteve perto de ser demitido.

O Valor, no entanto, confirmou o montante de investimentos no WiMax com uma fonte da operadora. Segundo esse interlocutor, o projeto será desenvolvido em etapas. Inicialmente, serão gastos US$ 200 milhões para um teste comercial que será realizado no início de 2008. Os desembolsos restantes serão feitos à medida que houver demanda, mas há previsão de que o gasto total na implantação da infra-estrutura chegue a US$ 600 milhões.

O episódio é emblemático da política de silêncio que a Embratel assumiu depois de 2004, quando foi vendida para a Telmex, do empresário mexicano Carlos Slim. Os executivos do grupo concedem raras entrevistas e a operadora não tem uma comunicação ampla sequer com o mercado de capitais - apesar de ter feito sucessivas ofertas de recompra de ações, a empresa ainda é listada na Bovespa.

Sobre os investimentos na rede WiMax, a Embratel não havia feito qualquer esclarecimento à bolsa e à Comissão de Valores Mobiliários até o fechamento desta edição.

É estratégia do grupo mexicano não falar sobre seus planos. Exceção só é feita, em alguma medida, à Claro, a operadora de celular pertencente à América Móvil, também controlada por Slim. Embora seja econômica nas informações - não revela investimentos e estratégias - , ela mantém contatos mais freqüentes com a imprensa e o mercado de telecomunicações.

O Valor tomou conhecimento das declarações do executivo da Embratel na terça-feira da semana passada, por meio de uma nota publicada pela Amcham em sua página na internet e reproduzida em agências de notícias.

Desde então, a reportagem procurou a Embratel todos os dias para obter mais informações sobre o projeto, devido à relevância que ele tem para o setor de telefonia. Inicialmente, a assessoria de imprensa da operadora informou que havia incorreções no material da Amcham e que estava levantando os dados precisos. Depois, acenou com a possibilidade de uma entrevista, o que não aconteceu.

Ontem, a operadora limitou-se a dizer que o valor do investimento mencionado pelo executivo estaria errado. Porém, a companhia não abriu a informação que, segundo ela, é a correta.

A Amcham, por sua vez, confirmou ao Valor que as declarações foram feitas a seu Comitê de Tecnologia da Informação e Comunicações. Ontem, a nota publicada após o evento já não se encontrava mais no site. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio)