Título: Odebrecht vai ao leilão com A. Gutierrez e Furnas/Cemig
Autor: Ribeiro , Ivo ; Magalhães , Heloísa
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2007, Empresas, p. B7

Mais uma surpresa na reta final da formação dos consórcios que vão disputar o leilão de concessão da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia. O grupo construtor mineiro Andrade Gutierrez fechou sua participação no consórcio liderado pela Odebrecht, que tinha como parceira a estatal Furnas, tarde da noite de quarta-feira. A Aneel, atendendo a pedido de um dos candidatos, adiou o prazo de entrega das inscrições de ontem para hoje e a entrega de garantias para o dia 30.

A entrada do grupo construtor mineiro no jogo amplia o grau de disputa no leilão. Com isso, Odebrecht robustece seu consórcio para enfrentar a concorrente direta Camargo Corrêa e o grupo elétrico franco-belga Suez, dono da Tractebel no Brasil.

A Camargo, além da parceira Chesf (estatal do sistema Eletrobrás), uniu-se ao grupo espanhol de energia Endesa, um dos maiores da Europa, e à distribuidora paulista CPFL Energia, que atualmente é a maior empresa elétrica do país e atua também em geração e comercialização. A Suez, outro gigante europeu, vai com a estatal Eletrosul.

Mais um reforço relevante no consórcio da construtora baiana é a companhia estatal de energia de Minas, a Cemig, que vinha de namoro com Odebrecht há cerca de dois meses. Segundo um representante do grupo, a elétrica mineira terá 10% da participação que cabia aos integrantes estatais, reduzindo a fatia de Furnas para 39%.

Do lado privado, ocorreu a seguinte distribuição de participações no consórcio: a Odebrecht Investimentos em Infra-Estrutura ficou com 18,6%, a Andrade Gutierrez Participações, com 12,4%, e o fundo financeiro Banif-Santander com 20%. Este último, capitalizado em cerca de R$ 200 milhões, poderá depois abrigar pequenos investidores, com fatias de 1%, 1,5% ou 2% cada.

Essa movimentação a menos de 20 dias da data do leilão retrata a renovação do apetite de grupos nacionais e estrangeiros pelo negócio de energia no país. O setor enfrentou um um longo período de crise após o apagão elétrico de 2001, o qual levou à saída do país de vários investidores, alguns deles com pesadas perdas financeiras, e a um processo de consolidação de ativos.

A licitação da hidrelétrica de Santo Antônio, com potência planejada para gerar 3,15 mil MW, está marcada para 10 de dezembro. O investimento previsto para o empreendimento varia entre as contas do governo federal - R$ 9 bilhões - e as dos investidores privados, que vão de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões.

O complexo elétrico do rio Madeira prevê ainda outra usina, Jirau, com potência de 3,3 mil MW. A previsão é que a licitação dessa obra ocorra durante o próximo ano. Em 2008 também deve ser licitado a linha de transmissão. Tanto Odebrecht quanto Suez fizeram as inscrições ontem na Aneel. Já o de Alusa-Schahin e o da Camargo entregarão a documentação hoje.

Segundo apurou o Valor, o consórcio da Camargo ainda fazia reuniões ontem para definir as participações societárias dos três integrantes: Camargo Corrêa Investiments em Infra-Estrutura, Endesa e CPFL. A Chesf terá participação de 49%. A idéia da construtora paulista, que neste ano deve faturar R$ 12 bilhões - 50% em engenharia e construção e concessões e 50% na atividade industrial -, era diluir os 51% em cinco integrantes. A entrada de Endesa no páreo mudou essa configuração societária.

Segundo fonte da Andrade Gutierrez, o interesse por Santo Antônio começou há alguns anos em negociação com a Odebrecht, estudando e avaliando uma modelagem. O foco inicial da Andrade era na área de construção civil na hidrelétrica, mas, diante da carência de infra-estrutura geradora de energia, resolveu ter uma participação no consórcio. Quando começou a privatizações do setor, olhou muito distribuição de energia, mas o negócio não se mostrou interessante. A compra da Light, segundo essa fonte, foi uma oportunidade bem atrativa ao grupo. E como a empresa tem planos de crescer nada impede que o grupo acabe entrando em novas aquisições na área de distribuição