Título: MCT investirá R$ 60 milhões em treinamento
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2007, Empresas, p. B3

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) articula parcerias com empresas do setor de microeletrônica para dar início a uma bateria de cursos profissionalizantes. O objetivo do governo é formar especialistas na área de semicondutores, componentes usados por toda a indústria eletroeletrônica, passando pelos setores de informática e automobilístico.

A previsão é de que os cursos tenham início entre abril e maio de 2008. Em três anos, a meta do ministério é formar 1,5 mil pessoas no chamado design de chips, etapa em que o profissional é responsável pela especificação técnica do semicondutor, que depois entra na fase de fabricação.

O MCT injetará R$ 60 milhões na iniciativa, de acordo com o secretário de política de informática, Augusto Gadelha. Os cursos serão realizados em quatro centros de treinamento do país. Os locais ainda estão em fase de definição, mas tudo indica que deverão ficar em pólos de tecnologia de Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo. "Também procuraremos empresas para apoiar o projeto, usando os benefícios previstos na Lei de Informática", afirma ele.

Duas multinacionais de semicondutores estão entre as companhias que apóiam a iniciativa. A americana FreeScale já levou um time de engenheiros brasileiros ao Texas, nos Estados Unidos, para fazer um estágio especializado. A empresa também doou ao Ceitec, o centro de estudos tecnológicos de Porto Alegre, uma linha de produção piloto para fabricação de chips. "Não se trata do modelo mais avançado de uma linha de produção de chips, mas é sofisticada o suficiente para produzir 90% dos semicondutores que usamos", ressalta Armando Gomes, gerente-geral da FreeScale no Brasil.

Outra companhia que pode participar da formação de instrutores é a ST Microeletronics. A empresa, no entanto, não quis comentar sua atuação no programa. No ano passado, a multinacional franco-italiana foi uma das companhias que defenderam a escolha do padrão europeu de TV digital. Depois que o governo fechou com os japoneses, a empresa não falou mais sobre o assunto.

Com os treinamentos, o governo quer mexer em um dos obstáculos que travam a geração de uma indústria local de semicondutores: a falta de mão-de-obra especializada.

A desoneração tributária também faz parte das medidas. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que regulamenta um programa de incentivos ao setor, reduzindo a zero as alíquotas de PIS, Cofins e IPI. "Agora, o próximo ponto é atacar a questão logística", comenta Gadelha.

O pacote de isenção tributária também foi estendido aos fabricantes de transmissores de sinais da TV digital, medida que beneficia os radiodifusores na aquisição desses equipamentos. Não há evidências, porém, de que os fabricantes de TV e de conversores de sinal - os chamados set top boxes - também serão contemplados por incentivos fiscais. O governo, ao menos por enquanto, mantém a orientação de não tratar os conversores de TV digital como bens de informática, e que qualquer redução fiscal está restrita à Zona Franca de Manaus, onde estão as fabricantes de TV.

Na última semana, a Positivo Informática anunciou sua entrada no mercado de set top box, por meio da fabricação terceirizada com a Teikon. Maior fabricante de computadores do país, a Positivo entrou com pedido na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para construir uma fábrica na região.

Na avaliação de Benjamin Sicsú, vice-presidente da Samsung, o governo deveria estudar uma forma de incentivar a fabricação de aparelhos de TV digital e conversores, mesmo entendendo que não são bens de informática. "As tecnologias são convergentes. Esse é um debate que o governo terá que retomar. Um aparelho de TV digital tem resolução suficiente para ser um monitor de computador."

Não está nos planos da Samsung produzir os conversores. A empresa vai colocar nas prateleiras aparelhos já equipados com o receptor de sinal digital. O valor das TVs, afirma Sicsú, ficará entre 15% e 20% acima dos modelos analógicos. Quanto aos conversores, indústria e governo ainda não se entenderam, mas a expectativa é de que os equipamentos cheguem ao varejo com preço médio de R$ 700.