Título: Cimento fica com 40% e se expande para África
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2007, Empresas, p. B1

O grupo Camargo Corrêa não quer figurar como mais um entre milhares de produtores de cimento no mundo. O divisor de águas foi a aquisição da argentina Loma Negra em 2005 por US$ 1 bilhão. Agora, aprova um plano de investimento para esse negócio que visa se posicionar entre os 20 maiores fabricantes em pouco tempo. Hoje é o 37º. São R$ 4 bilhões orçados para até 2012, com instalação de novas fábricas, ampliação de capacidades, reativação de fornos paralisados e aquisições. É o dobro do que anunciou há algumas semanas o grupo Votorantim.

A nova onda de crescimento vai além de Brasil e Argentina. Envolve outros países da América Latina e atravessa o Atlântico, chegando a Angola, que vive um boom de reconstrução econômica com forte demanda por cimento, e até Moçambique. Na América do Sul, o novo alvo é o Equador, onde poderá entrar com aquisição ou fábrica nova, além de incursões mais fortes no Paraguai e Uruguai, com US$ 520 milhões (exclui a Argentina).

"Do total do investimento previsto, R$ 3,4 bilhões deverão ser aplicados em até três anos", diz José Edison de Barros Franco, diretor superintendente e conselheiro da holding Camargo Corrêa S.A. e presidente dos conselhos de administração da Camargo Corrêa Cimentos (CCC) e de Loma Negra. Com isso, o grupo quer elevar sua produção atual, de 8,3 milhões de toneladas, para 20,5 milhões até 2012. Brasil e Argentina responderão por 65% desse volume .

No Brasil, onde a demanda cresce ao ritmo de dois dígitos neste ano e já falta o produto em algumas regiões, como Centro-Oeste e Norte, o grupo vai erguer mais uma fábrica e reativar imediatamente um forno de 900 mil toneladas da sua unidade de Pedro Leopoldo (MG). A nova fábrica ficará em Goiás ou Mato Grosso - depende de estudos finais de logística e de oferta de incentivos. O projeto, para 1 milhão de toneladas, está orçado em US$ 130 milhões, informa Antônio Miguel Marques, diretor-superintendente da CCC.

Segundo Marques, não é mais possível atender a demanda desses dois estados a partir de Minas ou de Mato Grosso do Sul, onde possui uma fábrica em Bodoquena. Essa unidade, que ganhará expansão de 160 mil toneladas, hoje ajuda a suprir o mercado paraguaio. A fábrica mais antiga do grupo, em Apiaí, sul de São Paulo, também será ampliada em 700 mil toneladas. "Nossas vendas no Brasil vão passar de pouco mais de 3 milhões para 5 milhões de toneladas", informa o executivo.

Está tudo engatilhado, devido ao crescimento acelerado do consumo, com aumento da renda da população e disponibilidade de crédito para habitação. O forno da fábrica de Pedro Leopoldo será reativado até dezembro. Ele foi paralisado em 2003, quando o consumo no país caiu ao mais baixo nível desde 2000 e o grupo inaugurou a moderna unidade de Ijaci, sul de Minas. Essa fábrica passa a atender mais São Paulo e Rio e Pedro Leopoldo a Minas e embarques para Angola, que está comprando 3 milhões de toneladas de cimento no exterior por ano.

Esse cenário positivo para o setor, que poderá ver o consumo local bater em 50 milhões de toneladas em 2008, atrai novos entrantes e até o retorno de antigos produtores. "Os quase 40% de ociosidade do parque fabril de três anos atrás, praticamente já zerou. Só em Minas e Rio Grande do Sul há capacidade sobrando", afirma Marques. Para outra regiões do Brasil, onde não está, o grupo separou US$ 480 milhões para novas fábricas, aquisições e associações.

Na Argentina, onde detém 45% do mercado, o plano contempla investimento de US$ 275 milhões - uma nova fábrica, de 1 milhão de toneladas, em San Juan ou Mendonza, e expansão das unidades de Catamarca e Ramallo. "Lá, o consumo cresce a 22% anuais nos últimos três anos e neste já vamos atingir a venda prevista somente para 2011, de 4,5 milhões de toneladas", diz Franco.

O Paraguai terá uma fábrica nova, de 300 mil toneladas. A parceria com a Ancap no Uruguai contará com US$ 100 milhões.

A incursão na África, na trilha das obras de infra-estrutura do grupo, prevê US$ 200 milhões. "Angola já justifica uma fábrica de 1 milhão de toneladas", comenta Franco. Algo similar poderá ser montado em Moçambique para atender o mercado local e o de países vizinhos.