Título: BNDES põe R$ 200 milhões em desenvolvimento limpo
Autor: Barros, Bettina ; Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Finanças, p. C6

Independentemente do que sair de concreto da 13ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-13), em Bali, o BNDES tem boas notícias para futuros projetos de crédito de carbono no Brasil. Dois fundos de private equity brasileiros foram selecionados para fazer a gestão de até R$ 200 milhões do banco, destinados a projetos associados à venda de carbono no âmbito do Protocolo de Kyoto. Os recursos fazem parte do Programa de Desenvolvimento Limpo do BNDES, lançado no segundo semestre, e deverão ser acrescidos com captações no mercado.

Detalhes do programa são mantidos em sigilo porque a aprovação desses fundos ainda depende da avaliação final da diretoria do BNDES e da posterior análise da Comissão da Valores Mobiliários (CVM). Uma das propostas apresentadas já foi "enquadrada" pelo comitê de mercados de capitais e o corpo técnico do banco avalia seu regulamento. A segunda proposta ainda está em fase de enquadramento - um ritual burocrático interno do banco. Estima-se que em dois ou três meses os nomes dos dois fundos sejam oficializados.

Segundo o Valor apurou, o primeiro fundo escolhido foi o Brasil Sustentabilidade, que reúne pesos-pesados do mercado financeiro - Alexandre Koch, ex Merril Lynch e atual Latour - e setor ambiental - Marco Antonio Fujihara, referência em projetos de carbono. A Latour é uma gestora de investimentos alternativos independente cujo acionista majoritário é Edgar Safdié, sócio do Banque Safdié.

O segundo fundo a gerir o recurso do BNDES seria formado pelo Banco Sumitomo Mitsui Brasileiro e pela GP Asset. Neste caso, o Sumitomo entraria com a sua expertise em projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, através do qual países em desenvolvimento podem vender os créditos aos países desenvolvidos), e a GP entraria com a captação de dinheiro. Procurado, o banco japonês não quis comentar o assunto. A GP negou a informação, por meio de sua assessoria de imprensa.

A necessidade de um parceiro que entenda de créditos de carbono é uma das condições previstas no processo seletivo do BNDES.

O BNDES irá alocar até 40% do volume dos fundos, somado aos valores aplicados por demais investidores. No entanto, além do limite de 40% será considerado o teto de R$ 100 milhões para aportes do banco. "A meta é ter fundos que somariam R$ 400 milhões cada", afirmou uma fonte familiarizada com o assunto, sob condição de anonimato. "A captação focará grandes instituições, como Previ". Os FIPs investirão tanto em projetos "greenfield" como em companhias instaladas, que necessitem de adaptações para se habilitarem aos créditos de carbono.

Para participar da concorrência pelos recursos do BNDES, os fundos já enviaram ao órgão do governo uma lista de possíveis empresas a serem investidas ("pipeline"). Poderão ser escolhidas empresas que tenham externalidade em créditos de carbono de todos os tipos, como pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e empresas do setor agropecuário. Os valores obtidos pelos créditos de carbono gerados serão reinvestidos nas próprias empresas geradoras. Os fundos deverão ter prazo de duração em dez anos, considerando o período para investimento, maturação e desinvestimento. Esse período poderá ser estendido em dois ou três anos.

Em entrevista por telefone ao Valor, de Bali, Otavio Vianna, gerente do Departamento de Investimentos em Fundos do BNDES, confirmou que dois fundos já teriam passado "pela primeira etapa" do processo seletivo para formar dois Fundos de Investimento em Participações (FIP) com o banco. Ele não forneceu mais detalhes.

Pelas regras de Kyoto, os países desenvolvidos (chamados de Anexo I) têm metas de redução de seus gases de efeito estufa até 2012. Quem não consegue reduzir como manda o protocolo, pode recorrer ao chamado MDL, que prevê a compra de créditos de carbono de empresas limpas em países em desenvolvimento (não Anexo I).

O Brasil é um dos grandes players desses créditos, junto a China e Índia. Hoje, há 109 projetos brasileiros registrados na ONU.

"Vamos passar o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto, ainda que o cenário esteja incerto", disse Vianna. "O que a gente quer é impulsionar o mercado de carbono". Por enquanto, apenas os dois fundos serão escolhidos, como um projeto-piloto. Dependendo dos resultados e da procura do mercado, porém, novos FIPs similares poderão surgir.