Título: IRB Brasil se reorganiza à espera da abertura
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2005, Finanças, p. C8

O IRB Brasil Re, estatal e monopólio do resseguro no país, está correndo contra o tempo para se preparar para o inevitável: o fim do monopólio e a abertura do mercado de resseguros para os estrangeiros. Como o Valor antecipou na edição do dia 29, o governo enviará este ano ao Congresso um projeto de lei para acabar com o monopólio estatal do resseguro no país e analisa a privatização do IRB. Os preparativos para a concorrência começaram já no início de 2004 com uma reorganização da estrutura do IRB, visando ganhar agilidade e eficiência. Na semana passada, a estatal quebrou um paradigma que foi a eliminação de uma unidade de negócios, criada em 1992, que era intermediária entre a área técnica (que avalia os contratos levados pelas seguradoras) e a área comercial (que faz o contato com as resseguradoras no exterior). A partir de agora, as áreas comercial e de subscrição estão trabalhando juntas em uma só etapa, que deverá reduzir pela metade o tempo de conclusão de um contrato de resseguro solicitado pelas seguradoras brasileiras. Para o consultor em seguros e resseguros Sergio Frade, diretor técnico do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef), seção Minas Gerais, a medida deve ser comemorada pelo mercado segurador. A aprovação dos contratos, diz ele, pode sair em até duas semanas, contra um mês ou mais pela sistemática anterior. Mudanças importantes foram feitas no final do ano. O IRB adotou o sistema colegiado e criou os comitês consultivo (câmara arbitral para dirimir divergências da estatal com as seguradoras), de investimentos (opina sobre a aplicação dos recursos do IRB) e de segurança (orienta nos contratos com as resseguradoras no exterior), com a participação de membros indicados pelas seguradoras, e também comitês internos com poder de decisão. Internamente, foram criados os comitês de colocação de contratos e de sinistros. Para agilizar o trabalho destes comitês, os contratos enviados pelas seguradoras são divididos em três níveis: até R$ 500 mil, que representam 30% do total de solicitações de resseguros que chegam à estatal; de R$ 500 mil a R$ 5 milhões, que respondem por 40%; e acima de R$ 5 milhões (30%). Todos os contratos passam pelo colegiado, mas para os do primeiro nível foi delegado poder de aprovação ao comitê técnico. Nos contratos até R$ 5 milhões, é necessário aprovação também de um comitê diretor. A partir de R$ 5 milhões, o colegiado toma a decisão de aprovar. "Antes as decisões eram individualizadas por diretor", explica Lídio Duarte, presidente do IRB, lembrando que também foi feita uma reorganização da diretoria. Luiz Apolônio, ex-diretor de Planejamento, passou a comandar a área de Sinistros e Riscos; Carlos Murilo, ex-diretor técnico, agora é diretor de Transportes, Cascos e Aeronáuticos; Luiz Lucena, antes na direção Comercial, passou à área de Riscos de Propriedades. A Diretoria Financeira foi acumulada na vice-presidência e as áreas de Vida, Governo, Estratégia e Estatística foram vinculadas diretamente a Duarte que acumula ainda a coordenação do colegiado. Segundo Duarte, a divisão por níveis financeiros dos contratos sempre existiu, a diferença é o tratamento desses níveis dentro da nova estrutura. "O sistema de comitês neutraliza eventuais orientações políticas. É uma busca pela melhor governança corporativa", diz o presidente do IRB. Para 2005, a meta é criar um portal de negócios, com transferência de dados totalmente via internet, que possibilitará às seguradoras interagir com o IRB até determinadas etapas do processo sem nenhum contato humano. O IRB encerrou 2004 com faturamento de aproximadamente R$ 2,9 bilhões, estima o presidente da companhia. Será, na prática, o mesmo valor de 2003, já que o faturamento foi afetado pela valorização do real frente ao dólar, a queda das tarifas dos prêmios de seguros de riscos industriais (uma tendência que predominou no mundo inteiro) e a falta de novos investimentos por parte das empresas que normalmente tomam resseguros. Por outro lado, o lucro estimado para 2004 ficará entre R$ 430 milhões e R$ 450 milhões, de 30% a 37% acima do mesmo resultado em 2003. Colaboraram para o crescimento do resultado uma retenção de riscos 15% maior e a queda da sinistralidade, informou Lídio Duarte.