Título: J. Malucelli entra no mercado de resseguro
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2008, Finanças, p. C10

Alexandre Malucelli, vice-presidente da J. Malucelli, diz que nova empresa vai se beneficiar da reserva de mercado O IRB-Brasil Re não é mais o único ressegurador do mercado brasileiro. Ontem, o Paraná Banco, que controla a seguradora J. Malucelli, anunciou que vai criar uma resseguradora local com capital de R$ 70 milhões, pondo fim ao monopólio de 69 anos do IRB.

A J. Malucelli Re será a primeira resseguradora privada e de capital nacional do país. O IRB é uma empresa de capital misto, controlada pelo governo federal e tem como sócios Bradesco e Unibanco. Na próxima semana, logo após o Carnaval, dois grupos estrangeiros devem anunciar a criação de empresas resseguradoras no país. O Lloyds of London, maior mercado de seguros e resseguros do mundo, também vai anunciar sua entrada no Brasil nos próximos dias.

O resseguro é o seguro do seguro, contratado para grandes apólices, como a de um avião ou plataforma de petróleo, na qual a seguradora não tem capacidade para assumir todo o risco envolvido. O mercado brasileiro foi aberto para competidores no ano passado. A partir do dia 14 de abril, entra em vigor a legislação criada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) para o segmento.

A legislação criou a figura do ressegurador local, com empresa constituída no Brasil e que terá uma reserva de mercado de 60% dos prêmios. Todos os contratos terão que ser oferecidos primeiro a estas resseguradoras. Se elas não quiserem, a seguradora pode procurar o mercado externo.

Foi justamente esse ponto da nova legislação que animou a J. Malucelli a criar uma resseguradora. "Ao invés de nos submetermos a esta reserva, vamos nos beneficiar dela", afirma Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora. "Vamos ter toda a independência para procurarmos onde colocar os prêmios", diz ele. Segundo o executivo, o plano é manter parcerias com outras resseguradoras, incluindo o IRB, mas só na retrocessão (o resseguro do resseguro, quando a resseguradora repassa parte do contrato a outra resseguradora).

A J. Malucelli é a maior seguradora do país no seguro garantia (apólice que garante que uma obra pública ou privada será feita dentro do previsto). Tem sozinha 50% do mercado, que dobrou de tamanho em 2007. Até novembro, registrou prêmios de R$ 157 milhões.

Em média, 91% dos prêmios destas apólices são repassados para resseguradoras. Nos últimos dez anos, a J. Malucelli já pagou em prêmios para as resseguradoras com quem trabalha mais de R$ 470 milhões, gerando R$ 300 milhões de lucros para estas companhias. "É um mercado muito rentável, com sinistros muito baixos", destaca Malucelli. Deste total, os sinistros responderam por somente 3,2% (cerca de R$ 15 milhões). Com a nova empresa, todo o lucro vai ficar dentro do próprio grupo.

A nova resseguradora vai se dedicar apenas ao seguro garantia, atendendo as operações do grupo. Mas Malucelli não descarta aceitar riscos de outras seguradoras do mercado e tem planos mais ambiciosos. Em um segundo momento, a idéia é transformar as operações aqui em uma base para os negócios em toda América Latina, que movimenta mais de US$ 1 bilhão ao ano em prêmios no seguro garantia.

Ontem, a diretora da seguradora foi ao Rio de Janeiro para fazer o pedido de autorização prévia à Susep. A J. Malucelli Re deve começar a operar em abril.

Quem vai tocar a nova empresa é Luis Alberto Pestana, que havia sido contratado no final de 2006 pela UBF (concorrente da J. Malucelli) dentro da preparação para a abertura do mercado. Pestana é disputado porque trabalhou na Munich Re, a segunda maior resseguradora do mundo. A empresa terá sede jurídica em Curitiba, onde está todas as operações do grupo, mas as operações devem se concentrar em São Paulo.

Armando Vergilio, superintendente da Susep, fala que o anúncio da nova resseguradora é mais um momento histórico no mercado segurador, que vem passando por mudanças profundas desde o ano passado, com a abertura do mercado de resseguros e as novas regras de solvência.

Vergilio espera, além de três ou quatro resseguradoras locais, mais 20 admitidas (empresa estrangeira com representação aqui). Destas, de 12 a 15 devem entrar imediatamente com o pedido na Susep. As inscrições nesta categoria acabaram atrasando por causa de uma dúvida sobre se a resseguradora admitida teria que ser uma filial da estrangeira ou teria que criar uma empresa aqui com o objetivo específico de representá-la. Em resolução publicada ontem, a Susep permite as duas opções.

O Lloyds of London é um dos que virá ao país como admitido. Entre as outras estão General Re (resseguradora alemã do megainvestidor Warren Buffet), RGA, Paris Re, Catlin e Tempest Re.