Título: Uma nova reunião para destravar Doha
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Brasil, p. A5

Brasil, Estados Unidos, União Européia, Índia e outros países-chaves da Rodada Doha concordaram em realizar uma reunião de ministros em março ou abril, em Genebra, para barganhar um eventual esboço de acordo agrícola e industrial. Se houver enfim entendimento, os americanos afirmam que o presidente americano George W. Bush pedirá ao Congresso a renovação em meados do ano do TPA (mecanismo que permite ao presidente negociar acordos sem que os parlamentares possam fazer emendas), esperando sua aprovação antes da troca de poder na Casa Branca no começo de 2009.

Se de novo uma reunião ministerial fracassar, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, sugere, então, um "enterro correto" da negociação global. Para ele, isso significa "extrair os elementos interessantes já negociados, pois seria criminosos sacrificá-los". São os casos da facilitação de comércio (redução de barreiras burocráticas, por exemplo, nas aduanas) e das medidas de apoio ao comércio dos países mais pobres.

Após reunião de mais de 20 ministros no sábado em Davos, o ministro brasileiro Celso Amorim afirmou manter uma dose de otimismo porque "as diferenças entre ricos e pobres não são tão grandes em termos de números, algumas vezes eles são maiores politicamente do que em termos econômicos". Mas fonte do governo negou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha acenado com corte de 64% nas tarifas industriais em conversa com o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, na semana passada. Segundo a fonte, Brown foi quem pediu coeficiente 20, que significa um corte médio de 60% nas alíquotas brasileiras.

Para Amorim, a crise financeira representa "uma janela de necessidade" para concluir Doha. Já o ministro de comércio do Egito, Rachid Mohamed Rachid, foi cético: "Cada ano repetimos que se Doha não se concretizar o mundo vai piorar, e cada ano o mundo está ainda melhor". (AM)