Título: Pirataria menor criaria US$ 2,9 bi em negócios
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2008, Empresas, p. B3

Um pacote recheado de US$ 389 milhões em arrecadação de impostos, geração de 26,9 mil postos de trabalho e injeção de US$ 2,9 bilhões na indústria de informática. Esse é o presente que o Brasil ganharia se, nos próximos quatro anos, conseguisse reduzir de 60% para 50% o seu índice de pirataria de software. A projeção faz parte de um relatório mundial sobre pirataria elaborado anualmente pela consultoria IDC, a pedido da entidade Business Software Alliance (BSA), apoiada no Brasil pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

A pesquisa, cujos dados serão divulgados hoje, mostra que apesar das inúmeras campanhas feitas pelo setor de tecnologia da informação (TI) e das ações da Polícia Federal e da Receita Federal para combater o crime de pirataria de software, o Brasil não conseguiu avançar muito no ano passado. Como ocorreu em 2006, as cópias ilegais abocanharam 60% dos sistemas usados por empresas no país. Em 2005 esse volume foi de 64%.

Projetar os impactos econômicos e sociais da redução da pirataria é um exercício que ajuda a mostrar ao governo os prejuízos que a prática ilegal gera ao país, diz Frank Caramuru, diretor geral da BSA no Brasil. "Há pessoas que acham que [os motivos de o setor combater a pirataria] são apenas os grandes fabricantes querendo mais uma migalha do mercado", comenta o executivo. "Na realidade, os números mostram claramente a importância dessa redução para o país."

Nos próximos dias, afirma Caramuru, representantes da Abes e da BSA devem discutir detalhes do estudo com membros do governo federal. A idéia de reduzir em 10% o índice de pirataria do país entre 2008 e 2011 é, segundo o executivo, plenamente possível.

Ao todo, os pesquisadores avaliaram 42 países, responsáveis por 91% do gastos globais em software. Os números mostram porque a preocupação com a pirataria é mundial. Nos Estados Unidos, onde a participação dos programas ilegais ocupa hoje 21% do mercado - a menor taxa em todo o mundo -, uma queda do volume para 11% nos próximos quatro anos levaria para a economia formal cerca de 32 mil novos trabalhadores. De quebra, o governo americano arrecadaria mais US$ 7 bilhões em impostos no período e veria o setor movimentar US$ 41 bilhões adicionais.

As estimativas dão conta de que, entre 2007 e 2010, empresas e consumidores deverão gastar US$ 350 bilhões com sistemas de computação. Consideradas as atuais taxas de crescimento do setor e da pirataria, se nada for feito o setor mundial de software verá US$ 180 bilhões escapar pelos dedos.

No Brasil, a batalha travada pelas empresa de software é a mesma que os fabricantes de computador conseguiram vencer nos últimos dois anos. Apoiados por medidas como isenção de impostos e incentivos para a produção local de equipamentos, a indústria de PCs conseguiu inverter a lógica que vigorava no mercado brasileiro. Em janeiro de 2005, o chamado mercado cinza - de micros feitos com peças de origem suspeita - atingia 73% da indústria. No segundo semestre do ano passado, essa taxa foi de 38%.

A tarefa é árdua. O que dificulta o trabalho no setor de software é a própria natureza de seus produtos, extremamente vulneráveis à reprodução ilegal. Em 2007, estima a IDC, o mercado brasileiro de TI - incluindo a venda de programas, máquinas e serviços relacionados - movimentou aproximadamente US$ 20 bilhões, o correspondente a 1,8% do PIB brasileiro. Sustentando por mais de 22,5 mil empresas, o setor é responsável por 372 mil postos de trabalho e gera US$ 7,1 bilhões em impostos pagos.

Atualmente, o volume de pirataria de software do Brasil é inferior ao verificado em toda a América Latina, onde a média atinge 66%. Ainda assim, o país registra o maior prejuízo na região. As perdas somaram US$ 1,148 bilhão em 2006.