Título: PMDB adia negociação de cargos nas estatais
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Fonte: Valor Econômico, 30/01/2008, Política, p. A7

Ruy Baron/Valor - 12/12/2007 Garibaldi: "Em matéria de veto, estamos com mais de 800 dispositivos vetados" O adiamento da confirmação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras e o apoio da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, ao nome de Flávio Decat para a presidência da Eletrobrás, fez acender a luz amarela no PMDB. Para não acumular mais perdas, o partido aceitou adiar o debate sobre os nomes do setor elétrico para depois do carnaval. A reunião que estava marcada para o fim da tarde de ontem com Edison Lobão (Minas e Energia) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) foi cancelada. Os pemedebistas preferem não assumir o cenário difícil, apostando nas promessas feitas até o momento pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas há quem aposte que está em curso um "freio de arrumação" para conter a voracidade do maior partido da coalizão.

O primeiro sinal disso foi o apoio explícito de Dilma à indicação de Flávio Decat para a presidência da Eletrobrás. Na semana passada, o PMDB do Senado - leia-se José Sarney, nos bastidores, e o presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho, publicamente - apresentou o nome de Evandro Coura para presidir a estatal. Na segunda-feira, o nome de Coura foi praticamente sepultado e Decat voltou a figurar na lista de favoritos. Garibaldi, ontem, esquivou-se de comentar. "Chancelei, mas não estou participando das negociações na linha de frente", disse. "Em matéria de veto, nós estamos com mais de 800 dispositivos vetados", afirmou o presidente do Senado, referindo-se aos vetos presidenciais pendentes de votação pelo Congresso.

Mas a maior derrota do PMDB foi mesmo a não confirmação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras. Apadrinhado pela bancada do PMDB da Câmara, Zelada foi uma sugestão de João Antônio Henriques, que chegou a ser cotado para a vaga. O governo já tinha dado indicações de que não se oporia à nomeação, apesar de o senador Delcídio Amaral (PT-MS) defender a permanência de Nestor Cerveró no cargo. "O Cerveró é competente, está lá há quatro anos e, nesse período, a Petrobras só tem crescido na área internacional", defendeu o petista.

Nos últimos dias, até o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) entrou no circuito e passou a defender a permanência de Cerveró. O impasse causou incômodo até no presidente Lula. Tanto que, durante reunião entre Lula, o ministro Edison Lobão e o ministro José Múcio Monteiro, o petista demonstrou impaciência com as idas e vindas nas disputas de cargo. "O PMDB deve definir qual é o nome que vai apresentar. A vaga é do partido e não sou eu que irei arbitrar disputas internas", disse o presidente, segundo relato de alguns interlocutores.

O Conselho de Administração da Petrobras reuniu-se na tarde de segunda-feira. A expectativa era de que o nome de Zelada fosse aprovado. Mas a indicação nem sequer foi analisada. A próxima reunião só acontece em meados de fevereiro. "Foi apenas uma questão técnica. Não tem mudança nenhuma. O presidente Lula confirmou para nós que a vaga é de Jorge Zelada", disse o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Alguns aliados, contudo, acham que a decisão do Conselho de Administração da Petrobras não foi simplesmente técnica, mas, essencialmente, política. Foi uma sinalização de que a disputa pelos cargos entre PMDB e PT ainda não está pacificada. E que "o freio de arrumação", seria uma tentativa, especialmente da Casa Civil, de privilegiar a meritocracia em detrimento de indicações meramente políticas. "A situação do setor elétrico brasileiro não é fácil. Estamos diante de um risco de apagão de energia para 2009 e 2010. O governo sabe que tem de tomar todo o cuidado na composição do setor pois, se houver crise, tudo o que o governo fez até agora se perderá", disse um aliado palaciano.

Assessores do PMDB reconhecem que os nomes estão sendo colocados pelo partido, mas toda a triagem está sendo feita pela Casa Civil. "Não adianta, os nomes podem estar escolhidos, mas não estão definidos. A Casa Civil está fazendo a filtragem das nomeações", confirmou um pemedebista. Na noite de segunda-feira, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), encontrou-se com Múcio, mas pouco se avançou. "Vamos esperar, sem ansiedade, para ver como as conversas evoluem", ponderou um pemedebista.