Título: África do Sul pede a empresas redução no uso de energia
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Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Internacional, p. A9

O governo da África do Sul pediu ontem que a indústrias instaladas no país reduzam imediatamente seu consumo de energia em 10%. A medida é uma tentativa de aliviar a crise energética que há seis dias obriga a suspensão das atividades nas minas de ouro, platina, manganês zinco e ameaça os investimentos e empregos na maior economia da África.

"Estamos fazendo um pedido urgente para uma redução de 10% em todos os setores", disse a ministra da Energia, Buyelwa Sonjica. Os cortes excluem os setores de saúde e de água.

O governo apelou para que os 138 maiores usuários industriais reduzam seu consumo. Três grandes empresas do setor de mineração, a AngloGold Ashanti, a Gold Fields e a Anglo Platinum, já haviam sido orientadas a interromper sua produção desde o último dia 25. Os cortes da produção já afetam os preços internacionais de metais e do carvão.

A estatal Eskom, responsável por 95% da energia fornecida no país, diz que a crise começou com o fechamento de algumas usinas de energia para trabalhos de manutenção de rotina na temporada de verão. Outras usinas tiveram problemas inesperados e pararam de funcionar. Além disso, depósitos de carvão de outras usinas foram afetados por causa das fortes chuvas.

Mas especialistas dizem que os problemas aumentaram após a decisão do governo em 2004 de adiar por quatro anos investimentos para a ampliação da capacidade de geração. Analistas culpam também uma diminuição brusca de mão-de-obra especializada e defendem que a Eskom deveria atrair funcionários aposentados que supostamente poderiam ajudar a atenuar a crise.

A Eskom planeja investir o equivalente a US$ 43 bilhões em geração de energia ao longo dos próximos cinco anos, mas sua primeira grande nova usina começará a produzir energia no fim de 2011 - na melhor das hipóteses.

Para Peter Attard Montalto, da Lehman Brothers, em Londres, a crise energética expõe as fragilidades da economia da África do Sul e é comparável ao apagão vivido em pelo Brasil no início da década. A exemplo do impacto provocado no Brasil - cuja economia cresceu 1,3% em 2001, ante 4,3% no ano anterior - a escassez de energia na África do Sul também deve restringir o crescimento do país. Para combater a pobreza, a meta do país é crescer 6% ao ano, algo que agora parece bastante improvável.

O problema, segundo analistas, é que a infraestrutura existente no país foi construída para uma economia que crescia a taxas de 3% a 3,5% ao ano e foi pressionada ao limite durante os últimos três anos, quando a expansão econômica foi em média de 5,1%. Analistas já prevêem que o país cresça apenas 3% este ano.

"Quando a economia entra num ritmo de aceleração muito rapidamente e antes que os investimentos em infraestrutura sejam feitos, a limitação de capacidade mina o seu fôlego", afirmou o economista do Brait Merchant Bank Colen Garrow. "Nós já estamos chegando ao máximo da capacidade [de geração]."

Segundo Dennis Dykes, economista-chefe do Nedbank Group, a quarta maior fonte de empréstimos na África do Sul, a economia local está sendo contida, assim como os investimentos no país. "O sentimento dos investidores já estão seriamente prejudicados." Para um país com altas taxas de desemprego - 25,5% - as perspectivas são das piores.

O grupo Rio Tinto, a terceira maior mineradora do mundo, anunciou que está revendo planos de investimento de US$ 2,7 bilhões em uma fundição de alumínio na África do Sul depois que os problemas de desabastecimento começaram a a afetar as atividades das minas no país.

Os preços do ouro e da platina têm subido desde o dia 25 por conta das preocupações com a falta de energia e os impactos na produção sul-africana. O país é o maior produtor de platina do mundo, e o segundo maior de ouro, atrás da China. A De Beers, a maior empresa de diamantes do mundo, disse que todas as suas grandes minas no país permaneciam fechadas ontem.

Apesar dos temores generalizados, o governo insiste que os problemas de energia não ameaçam projetos industriais nem a realização da Copa do Mundo, que o país sediará em 2010.