Título: Saldo comercial pode encolher até 25%, prevêem analistas
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2008, Brasil, p. A3

Depois de registrar a primeira queda dos últimos dez anos em 2007, o saldo da balança comercial deve encolher novamente em 2008. Ao invés dos US$ 40 bilhões do ano passado, o valor pode ficar entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões, o que significa queda entre 12,5% e 25%. Os economistas apostam em arrefecimento do ritmo de alta das importações e das exportações - só que, repetindo o padrão de 2007, as compras externas devem crescer o dobro das vendas.

Entre os analistas ouvidos pelo Valor, a RC Consultores é a mais pessimista em relação ao ritmo de crescimento da balança comercial brasileira. A consultoria projeta alta de apenas 6% para as exportações, para US$ 170 bilhões, e 12,5% das importações, para US$ 135 bilhões. Isso significa saldo de US$ 35 bilhões. São percentuais inferiores aos 16% e 32% registrado para vendas e compras externas, respectivamente, no ano passado.

Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, justifica que a base de comparação das importações é alta. Diz também que os preços das commodities importadas (petróleo, químicos, derivados de aço e outras) devem subir menos em 2008. As exportações seguem sustentadas pelo agronegócio, mas a tendência é que o aumento dos preços e das quantidades seja mais fraco. Nos manufaturados, devem cair os preços internacionais, por conta da combinação entre a pujança da produção asiática e a desaceleração da economia americana.

O departamento de economia do Bradesco projeta crescimento mais significativo para a balança em 2008, mas nada que se compare a 2007. De acordo com o banco, o Brasil deve exportar US$ 181 bilhões no próximo ano (alta de 13%) e importar US$ 149 bilhões (ganho de 23%), o que significa saldo de US$ 32 bilhões. Os economistas do Bradesco ressaltam que o forte crescimento do consumo e do investimento deve seguir favorecendo as importações.

Para Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), é provável que a taxa de crescimento das importações e das exportações em 2008 seja menor que em 2007. Ele afirma que o comércio mundial deve crescer menos neste ano, por conta da desaceleração americana. Segundo o economista, as exportações brasileiras estão em uma trajetória de desaceleração desde 2004, por conta da valorização do real. Ribeiro ainda não fechou suas projeções para 2008. "Ainda há muita incerteza quanto ao cenário mundial", diz.

A LCA Consultores projeta saldo comercial de US$ 30 bilhões. De acordo com a consultoria, as exportações devem crescer 10,6% para US$ 178 bilhões. De acordo com o economista Chau Kuo Hue, da LCA, as exportações brasileiras de manufaturados continuarão perdendo dinamismo por causa do câmbio. A desaceleração da economia americana, importante cliente dos manufaturados brasileiros, também deve contribuir para a perda de fôlego das exportações. A LCA projeta que as importações devem subir 23% este ano, para US$ 147,7 bilhões. A consultoria estima alta de 22,5% nas compras externas de bens de capital, de 17% para bens intermediários, de 11% para bens de consumo não-duráveis e de 31% para bens de consumo duráveis.