Título: Expectativa sobre aquisição da Xstrata
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2008, Empresas, p. B6

Um primeiro passo do conselho de administração da Companhia Vale do rio Doce para aprovar uma proposta de compra da mineradora Xstrata já foi dado, segundo interpretação de fontes do mercado de capitais após a declaração, ontem, de Lázaro Mello Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco de controlada a Bradespar. Por meio da Bradespar, o banco é o segundo maior acionista da Valepar, holding que controla a Vale.

Segundo Brandão, a companhia foi "credenciada pelo conselho a olhar a operação". Até agora, porém, os acionistas controladores da mineradora não autorizaram a direção-executiva da Vale a fazer a aquisição. O Valor apurou que eles poderão se reunir esta semana para "bater o martelo" e emitirem seu parecer sobre o gigantesco negócio, que pode ficar entre US$ 80 bilhões e US$ 90 bilhões.

Ontem, em Londres, a ação da Xstrata foi cotada a 35,12 libras, com alta de 0,34%. O valor de mercado da mineradora anglo-suiça, que produz cobrem níquel, carvão e zinco, alcançou US$ 68,17 bilhões. Os rumores eram de que a Vale estaria disposta a pagar 45 libras pelo papel, o que representaria um prêmio na faixa de 28% na oferta por 100% do capital da mineradora. A data final com a qual a Vale estava trabalhando para fechar a aquisição era início de fevereiro.

Até o momento, o que está confirmado é a negociação entre a Vale e um pool de mais de dez bancos liderados pelo HSBC e o Santander para garantia de um empréstimo de US$ 50 bilhões. Isso foi acertado na semana passada com a ida de Fabio Barbosa, diretor financeiro da gigante brasileira, à capital do Reino Unido. Os bancos estariam esperando o mercado se acalmar para anunciar o apoio à Vale.

Dos US$ 80 a US$ 90 bilhões que a companhia brasileira teria que desembolsar na transação, sendo US$ 50 bilhões na forma de dívida, em torno de US$ 30 bilhões viriam de uma emissão enorme de ações preferenciais (PNA). A incógnita até agora é se estes papéis terão direito a "tag along". O certo é que esta emissão vai diluir a participação dos atuais preferencialistas, já que a participação desse tipo de papel na companhia saltará de 40% para 52% do capital. Mas, este movimento não afetará a fatia dos controladores na Valepar, mas a holding terá seu peso reduzido no capital total da Vale.

Na conta de analistas de mineração , a compra da Xstrata não fecha se uma parte do pagamento não for em equity (ações), pois a Vale não tem condições de se alavancar acima de um nível de 2,5 vezes na relação de sua dívida total sobre o fluxo de caixa descontado (Lajida), que é esperado em US$ 20 bilhões este ano. Dessa forma, estaria se arriscando a se submeter ao crivo das agências de risco. O Lajida da Xstrata é avaliado em US$ 9 bilhões. A dívida das duas companhias soma US$ 27 bilhões, sendo US$ 17 bilhões da Vale.

Outro entrave é a posição do governo brasileiro, representado no conselho da Vale pela Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil) e o BNDES. A principio, o governo rejeita a operação, por considerá-la cara, complicada e contra os interesses do país.

A Vale terá mesmo que correr contra o tempo para entrar neste páreo sem rivais. Ontem, corriam informações de que a United Company Rusal, a maior produtora de alumina e alumínio do mundo estaria "cobiçando" também a Xstrata. Criada em março de 2007, a multinacional russa surgiu da fusão de seus ativos com a Sual e os ativos de alumínio da Glendore, a trader controladora da Xstrata, com 34,5%. A Rusal está presente em 19 países.

O mercado voltou a citar a Anglo American, com quem a Xstrata tem negócios de cobre no Chile, como potencial candidata a entrar na disputa. Isso é descartado pelo UBS Pactual em recente relatório sobre a operação.

Enquanto isto, a expectativa é de que a Vale estaria trabalhando para fechar a operação esta semana. Segundo o jornal britânico "Financial Times", as duas empresas já estariam compartilhando informações confidenciais, mas ainda não foi feita a auditoria (due dilligence). Até agora, as relações entre Xstrata e Vale tem sido amigáveis, mas a controladora da anglo-suiça está disposta a recebe um prêmio significativo pelo negócio e uma boa quantia em dinheiro.