Título: Preços administrados podem pressionar inflação em 2008
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2008, Brasil, p. A3

A inflação registrou um pequeno arrefecimento no atacado nos primeiros dez dias de janeiro, mas as projeções para o ano ainda preocupam economistas. Os preços de alimentos, que em 2007 foram responsáveis por metade da alta da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tendem a subir menos. Por outro lado, os preços administrados (combustíveis, energia elétrica, telefonia, medicamentos, educação), ajustados pelo Índice Geral de Preços (IGP), terão valorizações maiores que no ano passado. Isso porque o índice em 2007 variou 7,89%, ante 3,79% em 2006.

"Os preços administrados, que em 2007 subiram 1,7%, devem variar neste ano 3,7%, e eles têm peso no índice de 30%", observou Everton Santos, economista da LCA Consultores. A consultoria prevê um IPCA entre 4% e 4,5%, ante os 4,46% do ano passado. Para Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real, o desempenho dos preços de alimentos também merece atenção. Em 2007, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos subiram 10,8%, respondendo por 2,21 pontos percentuais do IPCA. Para este ano, segundo Zeina, a expectativa é que os alimentos subam menos, entre 5% e 5,2%. "Mas qualquer mudança de cenário poderá elevar a inflação acima da meta do governo de 4,5%", afirmou. Segundo ela, ainda que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) tenha tido variação menor na apuração do primeiro decêndio pela FGV - de 0,67%, contra 1,09% em dezembro - , o número ainda é alto. "Os preços de serviços haviam crescido muito em dezembro e nova alta seria preocupante."

Em janeiro, o Índice de Preços por Atacado (IPA) do IGP-M subiu 0,76%, ante 1,49% no mês anterior, graças ao arrefecimento na alta de preços agrícolas, disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). "Essa melhora no atacado logo será sentida no varejo", afirmou Quadros. Ele também prevê mudança na composição do índice inflacionário, com peso menor para alimentos e maior para serviços e produtos industriais tradeables (exportáveis).

Luis Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, salientou que houve piora no núcleo da inflação (cálculo que exclui as variações mais altas no índice). "Em 2007, o IPCA chegou a 4,46% com a explosão de preços de alguns produtos. Em 2008, sem choque nos alimentos, deve chegar a 4,4%", afirmou.