Título: Lula deve formalizar convite a Lobão
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2008, Política, p. A10

Múcio: ministro retoma hoje a peregrinação pela Esplanada para tentar encaixar as indicações feitas pelos aliados O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve formalizar, amanhã, o convite para que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) seja o novo ministro de Minas e Energia. Apesar das denúncias que envolvem o suplente e filho do senador, Edison Lobão Filho (DEM-MA), de transferir cotas societárias de sua empresa a uma empregada doméstica para burlar o Fisco, tanto o governo quanto o PMDB avaliam que é "pouco" para inviabilizar a indicação. O encontro ainda não está marcado - Lula está em viagem a Cuba e só retorna ao país hoje à noite -, mas negociadores estão acertando os detalhes do encontro.

Para evitar atritos, a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, ligou para Lobão no sábado. Dilma, que montou o modelo do setor elétrico em vigência desde 2004, demonstrava resistência à indicação por temer o aparelhamento pemedebista em uma área técnica. As ressalvas aconteciam apesar de Dilma negar o risco de um racionamento no setor. Mas, a ministra buscou uma aproximação com Lobão, percebendo que o embate seria inútil neste momento.

"Ela ligou para o senador e disse que não punha qualquer obstáculo à indicação, num gesto de boa vontade", informou o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), para quem Lobão telefonou depois de conversar com a ministra. Na avaliação palaciana, Lobão conseguiu resistir aos possíveis ataques do fim de semana. Na quinta-feira, logo depois do encontro com o PMDB e o adiamento da decisão para esta semana, um assessor palaciano reconheceu que uma das intenções era deixar "Lobão um pouco na chuva para ver esse agüentava o temporal".

A avaliação no governo é que, até agora, nada do que apareceu configuraria um indício forte que inviabilize a entrada do senador maranhense no Ministério. No caso do deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), que foi indicado e depois vetado para o cargo de ministro da Agricultura, havia processos de sonegação fiscal em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), lembra um assessor de Lula.

Resolvido o impasse do Ministério das Minas e Energia, o PMDB ainda terá que esperar pelos demais cargos do setor elétrico. No encontro da semana passada, além de Lobão, a cúpula do PMDB levou a Lula a indicação de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobras. Zelada pleiteia o cargo de Nestor Cerveró, indicação do petista Delcídio Amaral (MS). "Os demais cargos do setor vocês devem tratar com o ministro José Múcio Monteiro", disse Lula, segundo relato do senador Valter Pinheiro (MS).

Além de Zelada, o PMDB tenta emplacar um nome na presidência da Eletrobrás (atualmente ocupada pelo petista Valter Cardeal e pleiteada pelo pemedebista Flávio Decat) e outro na presidência da Eletronorte (atualmente ocupada por Carlos Nascimento e para a qual o deputado Jader Barbalho já indicou o ex-senador Luiz Otávio e o ex-deputado José Priante). Múcio retoma hoje a peregrinação pela Esplanada para tentar encaixar as indicações feitas pelos aliados.

Enquanto Lobão se prepara para assumir o ministério, Edison Lobão Filho estrutura a própria defesa. Ele alegou desconhecer que Maria Lúcia Martins, para quem passou suas cotas na sociedade da distribuidora de bebidas Bemar, em 1998, fosse uma empregada doméstica. Ele afirma que apenas transferiu as cotas - e as dívidas - da empresa para Maria Lúcia porque seu sócio na época, Marco Antônio da Costa, disse que se tratava de uma pessoa de confiança. "Só muito tempo depois fui saber que Maria Lúcia Martins era empregada de Marco Antônio Costa", disse Lobão. (Com agências noticiosas)