Título: Petrobras vai voltar a explorar petróleo em Cuba
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2008, Brasil, p. A4

Após três anos de ausência, a Petrobras voltará a explorar petróleo na área cubana do Golfo do México, praticamente nos mesmos termos de um acordo assinado em 2003, que deu errado devido a ingerência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mudança de postura da Companhia Cubana de Petróleo e uma clara má vontade dos Estados Unidos em relação ao projeto. O novo acordo foi assinado ontem em Havana, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prevê também a construção de uma fábrica de lubrificantes, a exemplo do entendimento havido no início do governo Lula.

O que ocorreu durante a execução do primeiro entendimento entre Brasil e Cuba explica a cautela com que o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, explicou os acordos assinados. Gabrielli disse que muito ainda precisa ser feito. A Petrobras, por exemplo, vai adquirir os mapeamentos sísmicos feitos por outras companhias da União Européia. Depois também será preciso estabelecer um programa especial para o envio das sondas para o Golfo do México, devido ao embargo americano a Cuba. O embargo não será empecilho para o cumprimento do acordo, segundo Gabrielli. "Nós obedecemos as leis internacionais", disse.

O acordo entre a Petrobras e a estatal cubana Cupet foi assinado durante visita do presidente Luiz Inacio Lula da Silva a Havana. "É sempre hora de investir em Cuba", disse Lula, após a assinatura de oito acordos com o governo cubano. Eram aproximadamente 13 horas - 10 horas no horário de Brasília - e Lula ainda aguardava a expectativa de um encontro com o presidente cubano, Fidel Castro, condicionada a um parecer favorável de seus médicos.

O consentimento foi finalmente dado e às 17 horas, Lula encontrou-se com Fidel. O estado de saúde de Fidel é uma espécie de tabu em Cuba, sobre o qual não há qualquer comentário nem extra-oficial.

Por isso era grande a expectativa da imprensa internacional ontem em torno da visita de Lula a Fidel. As próximas datas decisivas para Havana são domingo, quando serão eleitos os integrantes da Assembléia do Povo, e os 45 dias seguintes, quando os novos dirigentes de Cuba serão designados. Na prática, os negócios de Cuba já estão sendo conduzidos pelo primeiro-vice-presidente e irmão de Fidel, Raúl Castro, com quem Lula teve duas reuniões.

Entre os brasileiros observa-se que há mais pragmatismo da parte dos novos dirigentes cubanos. Pragmatismo que teria levado a Petrobras a reconsiderar a decisão de não mais investir em atividades exploratórias com os cubanos. A empresa já havia atuado no país de 1998 a 2001. Voltou com planos ambiciosos em 2003, mas em 2005, após uma relação tumultuada com os parceiros, fechou o escritório que mantinha em Havana. A curto prazo, não há expectativa de que a empresa volte a ter uma unidade parecida na capital cubana, segundo informou Gabrielli.

O acordo de 2003 também previa a exploração de águas profundas, a construção de uma fábrica de lubrificantes e modernização da refinaria de Cienfuegos. Três blocos foram explorados pela Petrobras na Zona de Exclusão Econômica, mas a estatal concluiu que eles não tinham viabilidade econômica. A Petrobras concluiu que a fábrica de lubrificantes, a ser explorada numa parceria com a Cupet, era um bom negócio, mas houve problemas.

Hugo Chávez também reivindicava envolvimento na fábrica de lubrificantes e outros projetos da Petrobras. Sempre reivindicando a maior fatia do bolo e sempre deixando apenas a cereja para a empresa brasileira. Num determinado momento foi projetado um consórcio entre a Petrobras, a Cupet e a venezuelana. Mais tarde, os cubanos desistiram do negócio.

Pelos acordos de ontem, a Petrobras poderá perfurar em toda a área cubana do Golfo do México, inclusive fazer parcerias com empresas que já atuam na região. A empresa poderá fazer perfuração em todas as áreas e não apenas em águas profundas, sua especialidade. A empresa de lubrificantes - também mencionada cuidadosamente em termos condicionais por Gabrielli - será operada por uma empresa mista cubano-brasileira. A Petrobras também vai cooperar com os cubanos na área de refino e treinamento de técnicos.

O primeiro acordo da Petrobras com os cubanos chamou a atenção dos EUA, pois além do Golfo do México a estatal avançava também sobre áreas no Irã e na Líbia. Em 2005, com o desacerto entre brasileiros, cubanos e venezuelanos, a empresa informou os americanos que não tinha planos de iniciar operações ou atividades em Cuba. Voltou atrás. Já os cubanos aparentemente se desiludiram com Chávez - embora o venezuelano seja hoje o principal parceiro comercial dos cubanos, na área do petróleo houve muita conversa e pouco ação prática da parte da PDVSA.

A expectativa de que os acordos assinados chegassem a cerca de US$ 1 bilhão foram frustrados, porque entre eles não foi incluído o projeto para a recuperação da infra-estrutura viária e da rede hoteleira cubana, que, juntos, somavam quase US$ 700 milhões. Os acordos haviam sido anunciado por Lula em seu programa de rádio e confirmados por fontes do Palácio do Planalto. O ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, disse que não chegou a tratar do assunto, mas é certo que o projeto, de interesse da construtora Norberto Odebrecht, não está arquivado. Continua em banho-maria também uma eventual cooperação na área de exploração do níquel. Uma linha de crédito na área de alimentos foi aumentada de U$$ 100 milhões para US$ 200 milhões.

Lula estimulou o entendimento entre os presidentes da Colômbia, Alvaro Uribe, e da Venezuela, Hugo Chávez, no sentido de que as negociações para o resgate de reféns em poder das Farc - Forças Armadas Revolucionárias Colombianas. Ele não quis classificar as Farc como organização terrorista, mas ressaltou que construiu um partido e em 20 anos chegou à presidência, enquanto a guerrilha colombiana está ativa há 40 anos.