Título: Republicanos adotam tom mais "keynesiano"
Autor: Lueck, Sarah, McKinnon, John D, Phillips , Michae
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2008, Especial, p. A12

Em busca de respostas para o aprofundamento da crise econômica que os Estados Unidos atravessam, os candidatos do Partido Republicano na corrida à Casa Branca estão se afastando do ideário conservador abraçado pela legenda no passado e começaram a ensaiar um discurso diferente, em que defendem um papel mais ativo para o governo na atividade econômica.

A inflexão está longe de representar um rompimento com os dogmas do partido, mas reflete as dificuldades que os republicanos estão encontrando para cativar o eleitorado numa etapa da campanha presidencial que levou o circo da política para Estados onde o cenário econômico parece particularmente sombrio.

Michigan, onde os eleitores votaram sábado no processo de seleção dos candidatos que vão disputar a eleição presidencial de novembro, tem atualmente a maior taxa de desemprego do país. A Carolina do Sul, onde os republicanos terão eleições primárias amanhã, tem a quarta pior taxa de desemprego. Em Nevada, que também vota amanhã, os problemas do mercado imobiliário têm se revelado mais severos que em outros lugares.

Em Michigan, berço da combalida indústria automobilística americana, o ex-governador Mitt Romney venceu as primárias de sábado com um discurso otimista sobre o futuro do país e promessas de incentivos fiscais para ajudar as montadoras a competir com seus concorrentes japoneses, o tipo de interferência governamental que a cartilha republicana sempre abominou.

Em campanha na Carolina do Sul na quarta-feira, ele ofereceu coisa parecida para a indústria têxtil e os fabricantes de móveis. "Nos meus anos na iniciativa privada, eu vi empregos aparecerem e vi empregos sumirem", disse Romney, que fez fortuna como consultor de empresas antes de entrar na política. "Vou lutar por cada emprego e apoiar cada boa indústria, e vou lutar para manter a economia forte."

Seus adversários não têm deixado por menos. Mike Huckabee, o ex-governador e ex-pastor evangélico que conquistou um pedaço do eleitorado conservador com seu estilo popularesco, disse ontem a um grupo de trabalhadores da siderúrgica Nucor que fará o possível para ajudar a indústria americana a enfrentar seus rivais estrangeiros.

"Precisamos garantir que não vamos perder nossa capacidade industrial e não veremos pessoas que trabalham duro no nosso país perder empregos porque as pessoas estão trapaceando no outro lado", disse Huckabee, respondendo a uma pergunta de um empregado da Nucor, principal concorrente do grupo brasileiro Gerdau nos EUA.

Nem Huckabee nem Romney têm apresentado propostas detalhadas para rechear os discursos da campanha. Mas há uma distância entre o que eles estão dizendo e as políticas que os republicanos sempre defenderam, baseadas na diminuição da carga tributária para todos os setores da economia e na redução da capacidade do governo de interferir nas atividades das empresas.

O senador John McCain é o candidato que mais tem se afastado do discurso tradicional do partido. Ele defende a criação de um sistema para obrigar as indústrias a conter as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global, e propôs diversas medidas para forçar os hospitais a diminuir os custos do atendimento médico e tornar mais acessíveis os planos de saúde.

Ontem, em comícios em diversos pontos da Carolina do Sul, McCain propôs um pacote de incentivos tributários como solução para reanimar a economia americana. O plano inclui diversos benefícios para estimular as empresas a investir e nenhum para a classe média, alvo principal dos planos de estímulo fiscal apresentados pelos candidatos do Partido Democrata.

"Vou diminuir seus impostos, estimular o crescimento e eliminar o desperdício de dinheiro público, e vamos superar esta etapa difícil", discursou McCain. Seu plano foi desenhado com um olho na aflição do eleitorado e outro na velha guarda do partido, que desconfia de McCain por causa de sua oposição a um pacote de incentivos tributários lançado pelo presidente George Bush em seu primeiro mandato.

Estado conservador que é um dos principais redutos eleitorais dos republicanos, a Carolina do Sul é um troféu importante na disputa pela simpatia dos chefes partidários e dos líderes empresariais. O apoio da elite republicana poderá ser decisivo na convenção nacional do partido, em setembro, se nenhum candidato sair das primárias com cacife para reivindicar a liderança dos republicanos sem ser contestado.

As pesquisas dizem que McCain está na frente, seguido de perto por Huckabee, que conta com o apoio dos eleitores evangélicos, mais da metade do eleitorado republicano no Estado. Romney, que está mal nas pesquisas, decidiu investir mais em Nevada, onde parece ter melhores chances. Estados maiores como a Califórnia e Nova York votam em menos de duas semanas.