Título: Gerdau investe em minas próprias para garantir 80% do suprimento
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2008, Empresas, p. B7

O grupo Gerdau decidiu responder à pressão dos custos do minério de ferro, que aumentou 185% de 2000 a 2007. Por conta disso, vai ampliar a produção própria em suas minas de Miguel Burnier, Várzea do Lopes, Gongo Soco e Dom Bosco, em Minas Gerais. As reservas de 1,8 bilhão de toneladas vão suprir neste ano 30% do consumo da controlada Açominas, mas em 2009 e 2010 a participação deverá chegar, respectivamente, a 45% e 80% da demanda total do grupo no país. Essa demanda, hoje, alcança 9,4 milhões de toneladas/ano, incluindo fornecimento para outras usinas da companhia em Divinópolis e Barão de Cocais (MG).

"Com isso nossa equação de custos ficará mais competitiva", disse ontem o presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter, durante a divulgação dos resultados de 2007. O balanço de 12 meses do grupo trouxe alta de 18,5% no faturamento consolidado, para R$ 34,184 bilhões, e de 18,3% na receita líquida, para R$ 30,614 bilhões. As vendas globais subiram 15,2% em volume, para 17,16 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos, enquanto o lucro líquido consolidado subiu 1,1%, para R$ 4,3 bilhões. Sem considerar despesas e receitas não recorrentes nos dois exercícios, o aumento foi de 11,9%, para R$ 4,47 bilhões.

Segundo Johannpeter, que assumiu o comando do grupo no início do ano passado, as reservas minerais do grupo já receberam investimentos de US$ 90 milhões. Outros US$ 120 milhões estão previstos para o período 2008-10. A idéia é, no futuro, poder abastecer as operações do grupo no Peru e na Índia. Os aportes fazem parte de um programa global de US$ 6,4 bilhões planejados para os próximos três anos, sendo 70% no Brasil. O objetivo é elevar a capacidade instalada total de 24,8 milhões de toneladas de aço bruto por ano (ante 20 milhões em 2006) para 28,3 milhões de toneladas. O volume não considera as aquisições ainda não concluídas da Macsteel, nos Estados Unidos, de 1,2 milhão de toneladas, e das participações na Aceros Corsa (México) e SJK Steel (Índia).

Segundo o executivo, 80% de auto-suficiência no suprimento de minério de ferro é um considerado um "bom nível". E a intenção do grupo é manter a produção da matéria-prima no Brasil. O vice-presidente executivo de finanças, controladoria e relações com investidores, Osvaldo Schirmer, explicou que o crescimento será gradual porque "ninguém tem bola de cristal para saber se o preço do minério de ferro vai continuar nesta ascendência assim meio descontrolada".

Os aumentos de custos registrados em 2007 no Brasil, que incluíram ainda energia elétrica, refratários, ligas, eletrodos, equipamentos e carvão para coque, causaram aumento de 20% na "cesta básica" de insumos ao longo do ano, afirmou Johannpeter. Por conta disto, no mês passado o grupo aumentou entre 5% e 14% os preços dos aços longos no mercado interno e a previsão é de que as vendas domésticas cresçam mais de 10% em 2008. No ano passado, suas vendas no país atingiram 4,88 milhões de toneladas, acima do crescimento de 7% previsto para a demanda mundial de produtos siderúrgicos.

Os custos aumentaram ainda nos demais países da América Latina em que a Gerdau opera e também forçaram realinhamento de preços dos produtos finais, informou o presidente da Gerdau. Nos Estados Unidos, a pressão dos custos da sucata levou a um aumento de 10% a 15% nos preços praticados pela subsidiária Gerdau Ameristeel, equivalente a US$ 50 a US$ 60 a tonelada.

Segundo Johannpeter, a crise do mercado imobiliário americano ainda não teve impacto sobre as vendas no país. O grupo prevê que o mercado local permanecerá estável em 2008, mas no mês passado começou a exportar parte da produção das usinas dos Estados Unidos para o Caribe e a América Latina. Cerca de 70 mil toneladas já foram embarcadas, mas o diretor-presidente não quis fazer projeções para o ano inteiro.

O crescimento das vendas globais do grupo em 2007 foi favorecido pelas aquisições nos Estados Unidos (incluindo a Chaparral Steel), Espanha, Venezuela, México e na República Dominicana, que absorveram US$ 4,77 bilhões dos investimentos totais de US$ 6,31 bilhões no período, explicou Johannpeter. O restante, de US$ 1,54 bilhão, foi aplicado em expansões e modernizações, Desse valor, o Brasil ficou com US$ 1 bilhão, com destaque para a ampliação da Açominas.

As unidades no Brasil venderam 7,034 milhões de toneladas, 6,2% a mais do que em 2006, graças aos negócios no mercado interno, que subiram 15,5%, para 4,88 milhões de toneladas. As exportações recuaram 10,3%: a prioridade foi garantir o suprimento doméstico. O volume alcançou 2,15 milhões de toneladas (incluindo vendas a coligadas). A alta de 20% nos preços médios dos produtos embarcados gerou uma receita de US$ 1,4 bilhão. As vendas das controladas no exterior cresceram 22,5%, para 10,125 milhões de toneladas, e junto com as exportações a partir do Brasil, responderam por 60% do faturamento consolidado.