Título: Fabricantes apostam no mercado local
Autor: Jurgenfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Empresas, p. B7

Reis, presidente da Karsten, cresceu 23% no mercado doméstico em 2007 e estima crescimento menor em 2008, de 5% Empresários do setor têxtil catarinense iniciam 2008 otimistas com as vendas no mercado interno. Embora receosos com as conseqüências no mercado doméstico de um enfraquecimento da economia americana, eles apostam em crescimento das vendas dentro do país, e em alguns casos, realizam novos investimentos para incremento da produção e melhor posicionamento em um cenário de maior competição no mercado nacional.

"Estamos confiantes de que 2008 será um ano muito bom não só pelos fundamentos da economia brasileira, mas também pelos resultados da reestruturação interna que fizemos", diz Vicente Donini, presidente da Marisol. Segundo ele, os negócios já neste início de ano, quando comparados com o início de 2007, sinalizam crescimento de vendas robusto e dão boas perspectivas. Em recente comunicado ao mercado, a companhia estimou um crescimento real de 12% no faturamento de 2008. Em 2007, a receita bruta somou R$ 430 milhões.

A Marisol entra 2008 amadurecendo a estratégia empregada no segundo semestre de 2007, que, entre outros fatores, envolveu a transferência de sua produção de menor valor agregado de Santa Catarina para o Ceará, e a descontinuidade de produção de duas marcas: worghon e mineral. A empresa deve investir R$ 24 milhões no ano, volume similar ao de 2007, sendo a maior parte para ampliar produção no Nordeste, onde encontrou custo de mão-de-obra mais baixo e incentivos fiscais.

Donini acredita que a economia brasileira não sofrerá grandes solavancos com um agravamento dos problemas da economia americana, embora pondere que o Brasil possa crescer menos por conta disso. "O Brasil está menos dependente de financiamento externo e houve uma retomada do consumo doméstico", justifica.

Para o gerente comercial da indústria de roupas infantis Brandili, Germano Costa, o mercado interno deve se manter forte neste ano, seguindo o desempenho de 2007. A empresa cresceu 28% no ano passado, acima da meta de 25%, e ele estima um aumento próximo a isso em 2008. "Tivemos forte aumento das encomendas em janeiro e um bom clima de inverno em 2007, que está trazendo para as novas coleções um lojista capitalizado", diz. "Não vejo perspectivas de reflexos da desaceleração da economia americana. Existe uma boa combinação hoje no mercado doméstico, com consumidores e varejistas querendo comprar".

A boa perspectiva vai levar a Brandili a investir R$ 12 milhões em 2008, recursos que incluem incremento do marketing - a empresa adquiriu cota de patrocínio do seriado "Supernanny", no canal GNT -, deve iniciar o desenvolvimento de outras marcas próprias e fará modernização da área de cortes. Em 2007, a empresa investiu R$ 9 milhões.

O diretor industrial da indústria Rovitex, Victor Luiz Rambo Jr, também mantém o otimismo de vendas maiores em 2008, apesar de um pouco preocupado com o cenário americano. "Não vejo nada de tão alarmante. Se fosse para desestruturar a economia, isso já teria ocorrido", diz. Após investir R$ 10 milhões no aumento da tinturaria, ampliando sua produção de malhas a fim de comercializar o volume excedente para o mercado nacional de confecção, a empresa estima faturamento de R$ 276 milhões em 2008 ante R$ 217 milhões em 2007.

Conhecidas por sua tradicional atuação na exportação, empresas do setor de cama, mesa e banho, também estão acreditando que vão ter um bom desempenho em 2008 por conta do mercado interno, ainda que este esteja mais competitivo com o redirecionamento de parte do volume que era exportado. Com projeções de dólar pouco atrativas, que não superam os R$ 1,90, apostam as fichas no consumidor doméstico.

O presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky, prefere não revelar números, mas espera desempenho melhor do que 2007 no mercado nacional. "Mais pessoas estão entrando nas classes B e C, o nível de emprego é maior e até o incentivo para construção civil trará bons reflexos. As novas residências devem gerar aumento da procura por enxovais". A empresa, que projeto um dólar médio de R$ 1,90, vem reduzindo as exportações em 60% e não tem perspectiva de reforçar sua atuação no exterior.

Já Luciano Eric Reis, presidente da Karsten, mostra-se mais cauteloso, mesmo quando o assunto é mercado interno por conta dos eventos no mercado americano. "Talvez não teremos o mesmo dinamismo de 2007", diz. A empresa, que cresceu 23% no mercado doméstico no ano passado, estima crescimento menor em 2008: 5%. "Acho que seria jogar areia nos olhos acreditar que toda a conturbação dos mercados não terá conseqüências. Acho que não é um fato que vai passar incólume, embora a economia brasileira esteja mais bem preparada", afirma ele, que estima para o ano dólar entre R$ 1,75 e R$ 1,80.

A Karsten, embora receosa com os desdobramentos, vai voltar a realizar investimentos em 2008, depois de segurá-los em 2007, priorizando apenas manutenção do parque fabril. Neste ano, os recursos (cujo valor não foi revelado) serão para treinamento, reforço da marca, melhora da logística e para continuidade da redução de custos.

"Ainda não temos idéia de como vai ser esse terremoto", diz outro executivo do setor, Evandro Muller, diretor financeiro da indústria Buddemeyer, referindo-se às dificuldades de avaliar neste momento os impactos que a situação americana poderá ter no mercado brasileiro. Entretanto, a estimativa da empresa por enquanto permanece de crescimento de 20% em 2008, não só pela estratégia própria, como também por acreditar em reflexos positivos de alguns indicadores econômicos como aumentos salariais superiores à inflação, e crescimento dos investimentos de algumas empresas ao longo de 2007. Para crescer o volume estimado e melhorar a produtividade, a Buddemeyer está investindo cerca de R$ 15 milhões em uma nova fiação, cuja previsão é de iniciar produção em junho. "Nossa perspectiva por enquanto é de um ano razoável a bom".