Título: Emprego vai aumentar para salário mais alto
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Fonte: Valor Econômico, 25/02/2008, Brasil, p. A5

O ano de 2008 se inicia com uma reversão no cenário de empregos no país. Em 2007, a expansão no saldo de postos de trabalho concentrou-se em profissões que pagam até dois salários mínimos por mês, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, compilados pela LCA Consultores.

Neste ano, aposta a consultoria, o mercado será mais generoso com profissionais de faixas salariais mais elevadas. Os dados do Caged de janeiro já sinalizaram o início da mudança. No mês, o saldo de novas vagas ficou em 142,9 mil, 0,49% acima do registrado no mesmo mês de 2007. O volume é o maior já registrado na série histórica do Caged para o mês. No acumulado de 12 meses, o incremento foi de 5,96%, com geração líquida de 1,65 milhões de postos de trabalho - outro recorde.

Na comparação com janeiro de 2007, o mercado de trabalho formal apresentou crescimento de 6%, com incremento em todas as atividades, com destaque para construção civil (14,9%), comércio atacadista (7,3%), indústria extrativa mineral (6,4%) e indústria de transformação (6,2%). As menores elevações foram observadas nos setores agropecuário (0,8%) e de serviços industriais de utilidade pública (2,5%).

A diferença em relação ao ano passado está no setor que elevou as contratações. Em janeiro do ano passado, a expansão de 0,39% no emprego foi puxada pelo setor de serviços, que respondeu por 44,9% do saldo total de postos gerados no período. Neste ano, o crescimento foi liderado pela indústria da transformação, que respondeu por 41,3% do total. Em janeiro de 2007, o setor respondia por 37% do saldo de vagas criadas.

"É bom que a indústria comande o crescimento do emprego, principalmente a indústria da transformação, porque é ela que paga os salários mais altos", diz Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele observa que em 2007, o saldo líquido de empregos formais criados ficou restrito às faixas salariais mais baixas, o que contribuiu para um aumento da massa salarial.

A LCA estima que em 2007 o crescimento da massa salarial ficou em 6% e, neste ano, deve se situar em 5,36%, com um aumento de 1,575 milhão no saldo de novos postos de trabalho, abaixo dos 1,689 milhão observados no ano passado. Além do crescimento menor no saldo de vagas, outro fator que contribuirá para um incremento mais tímido na massa salarial real é a previsão de reajuste do salário mínimo. Em 2007, o reajuste foi de 8,76%, com quase 5% de ganho real. Neste ano, o percentual nominal pode ser semelhante, mas o percentual real cairá para menos de 4%.

"A indústria da transformação oferece empregos com faixas salariais mais altas. O aumento da oferta de cargos com maior qualificação pode ajudar a acelerar o crescimento da renda salarial real do país", diz Francisco Pessoa Faria, economista da LCA. Para ele, os dados do Caged de janeiro vieram acima do esperado - a consultoria previa um saldo próximo a 120 mil vagas formais.

Faria e Almeida, do Iedi, observam que o crescimento do emprego formal compõe o quadro de produção aquecida na indústria. O Sinalizador da Produção Industrial (SPI), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a AES Eletropaulo, projeta para a produção industrial paulista crescimento de 1,5% em janeiro ante igual mês de 2007. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) projeta elevação no PIB industrial entre 4,5% e 5% (ante 6% em 2007), com aumento do nível de emprego de 5%, nos mesmos níveis de 2007. "O aumento das contratações e dos investimentos revela que ainda há grande confiança do empresariado na continuidade do processo de crescimento da economia brasileira", diz Almeida.