Título: Insistência do PT em manter presidência da CPI põe em risco acordo com oposição
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Política, p. A13

A bancada do PT na Câmara vai insistir para ficar com a presidência da CPI mista (com deputados e senadores) dos Cartões Corporativos, apesar de a oposição já ter anunciado que não vai abrir mão do cargo em troca da relatoria - que está nas mãos dos petistas.

O líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE), disse ontem que vai tentar convencer o Palácio do Planalto sobre a importância de os petistas estarem no comando da comissão, mesmo depois de líderes governistas defenderem que a oposição fique com a presidência. "Vamos mostrar (para os governistas) com argumentos sólidos que a presidência é melhor para as investigações. Eu respeito demais o senador Romero Jucá (PMDB-RR), entendo a situação do Senado, mas queremos dar a contribuição da bancada do PT", afirmou.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), também defendeu que o partido fique com a presidência da comissão mista. "É uma questão objetiva de razoabilidade. Se o PMDB fez um gesto, não é razoável imaginar que o PT faça o mesmo tipo de gesto", disse Berzoini ao referir-se à decisão do PMDB de ceder a presidência da CPI à oposição.

O impasse sobre o comando da CPI mista só deve ser solucionado hoje, em reunião do ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) com os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), e no Senado, Romero Jucá.

Apesar da postura da bancada petista, Fontana defendeu que o acordo firmado com a oposição seja mantido, sem a troca nos cargos de comando da CPI: "O PT tem posição política, isso é respeitado. Mas estou trabalhando para estabilizar esse acordo que foi feito. Nós do governo vamos fazer essa concessão ao PSDB, que jamais fez concessão semelhante ao PT enquanto estava no governo".

Em meio ao impasse dentro da base governista, a oposição reiterou que não está disposta a voltar atrás no acordo firmado com o governo. DEM e PSDB desistiram temporariamente de propor a instalação de uma CPI dos Cartões Corporativos apenas no Senado depois do compromisso de que ficariam com a presidência da comissão mista.

"Espero que, sem mais delongas, a CPI se reúne e eleja a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) na sua presidência", defendeu o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

O PSDB indicou Serrano para a presidência da CPI, enquanto o PT escolheu o deputado Luiz Sérgio (RJ) para a relatoria da comissão mista. Na semana passada, porém, os petistas decidiram propor a troca dos cargos de comando da CPI porque avaliam que, na presidência, terão melhores condições de conduzir as investigações sobre o mau uso dos cartões corporativos.

A oposição também está disposta a barrar a estratégia dos governistas de iniciar as investigações da CPI mista pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Os partidos da base aliada defendem que a comissão apure, inicialmente, irregularidades nas chamadas "contas B", que deram origem aos cartões corporativos na gestão FHC.

Os partidos já fizeram suas indicações de titulares e suplentes para a CPMI. Ao todo, serão 12 deputados e 12 senadores como titulares e o mesmo número de suplentes.

Na Câmara, o bloco governista indicou cinco dos seis titulares a que tem direito: Carlos Willian (PTC-MG), Marcelo Melo (PMDB-GO), Maurício Quintella Lessa (PR-AL), Paulo Teixeira (PT-SP) e Luiz Sérgio, indicado para a relatoria.

Os partidos de oposição PSDB, DEM e PPS indicaram os deputados Moreira Mendes (PPS-RO), Vic Pires (DEM-PA) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), autor do requerimento de criação da CPMI. Ainda restam duas vagas para o bloco PSB, PDT, PCdoB e PMN e uma vaga para o PV.

No Senado, o PSDB indicou os senadores Marconi Perillo (GO) e Marisa Serrano, também escolhida para ocupar a presidência da comissão. O DEM indicou Demóstenes Torres (GO) e Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA). Pelo PMDB, farão parte os senadores Neuto de Conto (SC) e Almeida Lima (SE) e pelo PT, as senadoras Fátima Cleide (RO) e Serys Slhessarenko (MT). O bloco do governo ainda tem uma vaga a ser preenchida. O senador do P-SOL José Nery (PA) ocupará a vaga destinada à minoria. PDT e PTB cada um com direito a uma vaga, ainda não fizeram as suas indicações.