Título: Brasil defende bomba 'cluster' usada em ataque
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2008, Internacional, p. A14

As bombas "cluster", que possivelmente mataram Raúl Reyes, em um ataque com caças turboélice Super Tucano da Embraer, estão no centro de uma polêmica internacional. Um grupo de países, apoiado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e por cerca de 200 ONGs, luta pela proibição total desse tipo de munição.

A característica das bombas "cluster" (cacho, em inglês) é que elas se abrem e se espalham antes de tocar o solo - a cerca de 500 metros, por exemplo -, difundindo o impacto das explosões e impondo danos maiores ao inimigo. O problema, segundo os movimentos contrários ao uso dessas armas, é que muitas submunições não explodem e ficam indefinidamente no solo, até se desintegrarem por causa de chuvas fortes ou da aproximação acidental de animais ou pessoas, com tragédias semelhantes às causadas por minas terrestres. De acordo com o professor Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares na Universidade Federal de Juiz de Fora, foram empregadas pela Otan em Kosovo, por Israel na Guerra do Líbano e pelos EUA no Afeganistão.

De certa forma, o que querem os adversários das bombas "cluster" é um novo protocolo da Convenção sobre Certas Armas Convencionais (CCAC), para disciplinar a utilização delas. O governo brasileiro - diplomacia e militares - opõe-se a essa discussão. O Itamaraty se diz contra a negociação de acordos sobre armamentos específicos.

Já os militares brasileiras, detentores das munições "cluster", ressaltam o "poder de dissuasão" conferido por elas: são mais eficazes que outros armamentos convencionais e acessíveis a países com forças relativamente menores. O Exército possui munições tipo "cluster" em seus sistemas Astros II e a Aeronáutica, em bombas "lança-granada". Embora diga que não use esse tipo de armamento, o Ministério da Defesa diz que é legal.