Título: Serra reconhece que aliança ficará para 2º turno
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Fonte: Valor Econômico, 12/03/2008, Política, p. A5

Principal defensor da manutenção da aliança entre o PSDB e o DEM em São Paulo, o governador do Estado, José Serra, recuou ontem em sua posição e reconheceu que os dois partidos não disputarão juntos o primeiro turno para a prefeitura da capital.

"Acho que o (Geraldo) Alckmin vai ser candidato e o (Gilberto) Kassab também vai ser candidato. Até agora, estamos aliados, aliança que deu certo na prefeitura, porque o Kassab continuou minha gestão, e no Estado também ganhamos juntos. Na capital, tudo indica que (DEM e PSDB) sairão separados", disse ontem o governador tucano, em entrevista à rádio Bandeirantes. " Vamos somar forças para o segundo turno".

Na semana passada, tanto Kassab quanto Alckmin já falavam publicamente que não deveriam manter a aliança no primeiro turno, uma vez que os dois sairiam candidatos por seus partidos.

O presidente municipal do PSDB em São Paulo, José Henrique Reis Lobo, também já começou a duvidar da sobrevivência do acordo. Lobo reconheceu que "está cada vez mais difícil" manter a aliança. "Quando falta serenidade, é difícil construir algo positivo", comentou. "Os dois lados têm um discurso pela união. Mas, na verdade, estão conspirando contra a coligação."

A mudança no tom de Serra reforça a candidatura de Alckmin e mostra uma tentativa da direção partidária de já tentar minimizar as disputas internas do PSDB e suas conseqüentes fissuras. O partido dividiu-se entre os aliados de Serra, que defendem o apoio a Kassab, e os mais próximos a Alckmin, que querem candidatura própria.

Ontem, a eleição do líder do partido na Assembléia Legislativa deu nova indicação de que a divisão do partido já preocupa os dirigentes. A deputada Maria Lúcia Amary desistiu da reeleição ao cargo na última hora e a vitória foi dada por aclamação a Samuel Moreira. Na semana passada, o cenário era diferente: a disputa entre os dois mostrava-se acirrada e os deputados discutiam inclusive se o voto seria aberto ou secreto. "Nossa preocupação é de unir o partido. Achei melhor não continuar na disputa", disse Maria Lúcia. "Essa eleição para a Assembléia não podia virar foco de disputa", disse Bruno Covas, defensor da candidatura própria do PSDB à capital.

Moreira, novo líder da bancada, é ligado a Serra e foi subprefeito quando o tucano era prefeito. Já Maria Lúcia é vista por correligionários como mais próxima a Alckmin, apesar de ela dizer que é neutra nas disputas entre os grupos do PSDB. Seu marido, o deputado federal Renato Amary, ajudou a derrotar o candidato de Serra para a liderança do PSDB na Câmara Federal, ao apoiar José Aníbal .

Os deputados estaduais já cobram espaço na condução da candidatura de Alckmin e esperam que Moreira amplie a participação da bancada na campanha municipal. "Quem está aparecendo nesse processo todo são os deputados federais", reclamou Bruno Covas. O deputado Roberto Engler criticou os tucanos que continuam defendendo a manutenção da aliança com o DEM. "Temos de ter candidato próprio. Os tucanos que defendem a candidatura de Kassab são os que têm cargos na prefeitura. Estão defendendo interesses pessoais, não partidários", disse. (Com Folhapress e Cristiane Agostine, de São Paulo)