Título: Indústria cresce apesar do real forte, aponta estudo do BC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Brasil, p. A4

O Banco Central fez um estudo que contesta a tese de que a sobrevalorização do real poderá levar à desindustrialização da economia. Na visão da autoridade monetária, a indústria tem demonstrado "flexibilidade e capacidade de adaptação", deslocando os fatores de produção para atender ao consumo interno.

Em 2007, quando o real se valorizou 17,15%, alguns analistas econômicos afirmaram que a exportação de produtos manufaturados iria cair, deprimindo a participação da indústria na economia. O BC afirma no estudo, que foi divulgado no relatório de inflação de março, que o crescimento da produção industrial em 2007, de 6%, foi o terceiro melhor desde a edição do Plano Real, em 1994. Os dados deste início do ano, assinala o banco, indicavam continuidade da tendência de crescimento da indústria em patamar superior ao ocorrido em 2007.

A indústria cresceu mais do que em 2007 apenas em 2000, quando avançou 6,6%, e em 2004, quando se expandiu 8,3%. O BC pondera, contudo, que nesses dois anos a indústria cresceu mais, porque partiu de bases deprimidas. Em 1999 e 2003, a atividade havia, respectivamente, encolhido 0,7% e avançado 0,1%. Em 2007, o crescimento da indústria ocorreu a partir de uma base mais elevada - a expansão em 2006 foi de 2,8%.

O ponto sustentado pelo BC é que a indústria se saiu bem em 2007 porque foi puxada pelo forte crescimento da demanda doméstica. Com o documento, o BC firma sua posição no debate feito dentro e fora do governo sobre se a indústria continuaria a exibir o mesmo dinamismo, se dirigir a produção preferencialmente para o mercado interno.

Em março, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou medidas para conter a valorização do real e para dar maior competitividade às exportações, com o argumento de que, para o crescimento econômico ser equilibrado, as indústrias devem ter um pé no mercado interno e outro no mercado externo. Entre as medidas, estão a imposição de alíquota de 1,5% de IOF sobre capitais estrangeiros em renda fixa, isenção de IOF sobre exportações e o fim da exigência de cobertura cambial para as exportações. Mantega disse, na ocasião, que o próximo passo será anunciar uma nova política industrial.

Na visão da Fazenda, a busca por mercados externos incentiva as indústrias a serem mais eficientes e competitivas. O receio no ministério é que o Brasil seja afetado pela chamada "doença holandesa". Ou seja, que a apreciação da taxa de câmbio, causada pela alta dos preços de produtos primários exportados pelo Brasil, leve à morte da indústria.

A tese do BC é que tanto faz a indústria vender no mercado interno ou externo - e em qualquer cenário existe pressão por eficiência. O mercado interno brasileiro, na visão dos economistas do BC, é grande o suficiente para evitar eventual desindustrialização.

O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, disse, ao apresentar o estudo, que a principal evidência de que a indústria não está definhando no país são os projetos de investimentos anunciados e os índices de intenção de investimento. "Se os investimentos estão crescendo, é porque os empresários se sentem confortáveis em relação ao futuro do setor."