Título: Para Lula, Dilma foi vítima de leviandade clandestina
Autor: Leo, Sergio; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Política, p. A6

Alan Marques/Folha Imagem O presidente da República observa, de dentro do Palácio do Planalto, protesto de funcionários dos Correios em greve, enquanto aguarda o presidente da Eslovênia A elaboração e divulgação de um dossiê com dados sigilosos sobre gastos feitos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, dona Ruth, foi uma "leviandade clandestina" e "chantagem política" contra a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comentar o envolvimento da ministra na polêmica criada com a revelação das informações da Presidência protegidas por sigilo.

"A pessoa que tem a história da Dilma, que presta o serviço ao país que a Dilma presta, não pode ser vítima de uma chantagem política de uma figura que eu não sei quem é, que roubou peça de um documento de um banco de dados e vendeu a idéia para alguém de que era um dossiê", disse o presidente, após almoço no Palácio do Itamaraty com o presidente da Eslovênia, Danilo Türk.

Minutos antes, em conversa informal com jornalistas que participaram do almoço, Lula defendeu com veemência a ministra, e falou com naturalidade sobre a existência de um "dossiê". "A Dilma foi vítima de uma leviandade clandestina, de alguém que toma documentos e transforma em dossiê", comentou.

"No governo tem muitas pessoas que trabalham, e têm muitos documentos", comentou Lula. Lula mencionou ter lido no jornal 'O Globo' a informação de que o senador Álvaro Dias teria tido acesso aos documentos antes da divulgação à imprensa. Ele afirmou que o governo investigará a origem do vazamento dos dados, coletados na Casa Civil, de arquivos do palácio do Planalto. "Se tivesse caráter não seria clandestino", disse, referindo-se ao responsável pelo vazamento. "Quem recebeu o tal do dossiê sabe quem foi".

Ao falar, mais tarde, aos jornalistas na saída do Itamaraty, Lula evitou repetir o nome de Dias. "Tem jornais que já dizem que teve senadores que participaram disso; ainda não li a matéria, mas acho lamentável", disse. "A impressão que eu tenho é que alguém encontrou um osso de galinha e tentou vender para a imprensa que tinha encontrado uma ossada de dinossauro", comparou. "Na hora em que for montado para saber de que tamanho era o dinossauro, vão perceber que era um franguinho".

Após negar que Dilma vá atender a uma eventual convocação para explicar o caso do dossiê, na CPI montada para investigar mau uso de cartões corporativos, Lula fez outra enfática defesa da ministra, e lamentou que, em um momento de êxito da política econômica, "apareça alguém para colocar suspeita na figura que tem compromisso com este País 24 horas por dia".

Lula afirmou que continuará, com Dilma, a viajar no país para lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de investimentos de R$ 504 bilhões para os próximos anos. Disse que não debaterá com oposicionistas que o acusam de antecipar a campanha eleitoral, nos discursos de inauguração de obras. "Sou o cidadão mais cansado de eleição", ironizou "Se tem uma coisa que eu não gostaria de fazer era discutir eleição, porque cansei; fiz eleição em 1982, 1986, 1988, 1990, 1992, 1994, 1996, 1998, 2000, 2002, 2004, 2006", argumentou. "Chega um pouco, agora eu preciso descansar."