Título: PT quer mudar nome para liberar aliança
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Fonte: Valor Econômico, 03/04/2008, Política, p. A6

A solução do impasse sobre a aliança PT-PSDB na disputa para a Prefeitura de Belo Horizonte foi adiada mais um pouco. Depois de uma reunião no Palácio do Planalto, na noite de terça-feira - com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - e outra na sede do PT, em Brasília, ontem pela manhã, ficou acertado o adiamento da reunião do diretório municipal do partido em Belo Horizonte, previsto inicialmente para o dia 6 de abril.

Partidários da aliança com os tucanos acham que não existem razões para um adiamento superior a uma semana. Mas aqueles que pretendem vetar a indicação do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Márcio Lacerda (PSB) como o candidato da coligação querem um prazo maior para costurar uma alternativa: 27 de abril seria, para eles, o prazo ideal.

Essa alternativa, já defendida pelo grupo ligado ao ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, seria a substituição de Márcio Lacerda, um nome que não foi referendado pela direção nacional do PT nem por aliados históricos do partido, como o vice-presidente José Alencar e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, pela ex-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, Ana Lúcia Gazzolla, também do PSB.

Os partidários de Gazzolla informam que, no encontro no Planalto, Lula teria repreendido Pimentel afirmando que ele não consultara os aliados e a direção petista na costura do acordo com o PSDB em torno de Lacerda e que, agora, deveria "corrigir o erro cometido". Segundo relatos de pessoas que acompanharam a reunião, o presidente acha que o nome de Gazzolla seria agregador o suficiente para levar para o mesmo palanque Alencar, Dulci e Patrus, resolvendo, dessa forma, a questão.

Mas partidários da tese da aliança mineira não confirmam a versão. Durante a reunião da Executiva do PT, ontem, com a presença dos ministros mineiros do PT e dos presidentes dos diretórios estadual e municipal do partido, Pimentel repetiu para Patrus que, se ele aceitasse ser o candidato do partido à prefeitura, o problema estaria solucionado. Patrus manteve o seu discurso de que não deseja ser candidato, mas quer contribuir para o consenso. Estratégia que irrita os partidários de Pimentel. "Ele sempre disse que era contra a aliança, desde o início. Não pode querer agir agora como pacificador", reclamou um petista.

Essa postura ambígua de Patrus não causa insatisfação apenas nos petistas de Belo Horizonte, mas também altera o humor do governador de Minas, Aécio Neves. Um dos articuladores da aliança com o PSDB duvida, sem uma sombra de hesitação, que Aécio vá concordar com alterações nesse momento no nome do candidato da chapa PSDB-PT. "O Patrus agiu errado. Se lá atrás ele tivesse buscado o consenso, tudo bem. Mas agora vai dizer que pode ter casamento, mas veta o nome da noiva? Isso não existe", reclamou um dos envolvidos no debate.

Como bom mineiro, "esperto na política", Aécio jamais dirá isso explicitamente, segundo avaliam pessoas que entendem a forma do tucano de fazer política. Mas colocará "um pé alheio na porta do PT para questionar: o que é isso?". Há ainda o desgaste com o PSB, que indicou Lacerda, e não Gazzolla, como o nome da legenda na cabeça de chapa para a Prefeitura de Belo Horizonte. Pimentel lembrou que essa decisão não está nas mãos do PT, mas do PSB. "O PT é um partido democrático, que se curvará à decisão da maioria".

Um dos parlamentares mais próximos de Aécio, o vice-presidente da Câmara, Nárcio Rodrigues (MG) não quis polemizar, afirmando que não é o momento para "fulanizar" a questão. "O importante é que a tese da parceria entre PSDB e PT em torno de um nome do PSB seja mantida". Quanto à presença de Lula no debate, petistas acham que ela se encerrou na noite de terça. "Ele já fez muito, colocou o carimbo de "mau" no Pimentel e deu satisfação aos aliados, como se dissesse: pronto, fiz minha parte, não me falem mais disso", disse um petista. (PTL)