Título: Lula dará hoje 3 recados a esquerdista
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Fonte: Valor Econômico, 02/04/2008, Internacional, p. A13

O ex-bispo Francisco Lugo, candidato esquerdista à Presidência do Paraguai com um agressivo discurso contra o poder econômico do Brasil, será recebido hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve ouvir três recados: o governo brasileiro tem interesse em discutir demandas do Paraguai, disposição para tratar de projetos de incentivo à economia do país e rejeita com veemência qualquer proposta de renegociação do acordo que comanda as operações da hidrelétrica binacional de Itaipu.

Lugo, favorito nas pesquisas eleitorais, faz da renegociação de Itaipu um dos pontos principais de campanha. Seu encontro com Lula é apresentado pelo Itamaraty como uma demonstração de que o presidente se dispõe a receber qualquer candidato importante à Presidência dos países vizinhos e de que o governo tem interesse em manter relações muito próximas com os demais governos da América do Sul, independentemente de quem quer que ganhe as eleições.

Em janeiro, Lula recebeu o candidato Lino Oviedo, acusado de tentativa de golpe e de assassinato, em 1999, do vice-presidente Luiz Maria Argaña no Paraguai. Oviedo, apontado como o candidato mais simpático à manutenção das atuais condições de funcionamento de Itaipu, evitou estender-se sobre o assunto, ao falar à imprensa , após o encontro, e disse apenas que acreditava na boa vontade de Lula para discutir eventuais problemas de preços.

Lugo tem acusado o acordo de Itaipu de ser prejudicial aos paraguaios por obrigar o país a vender a energia não utilizada ao Brasil, a preços bem inferiores aos do mercado. Em um continente mercado por carência energética, ele defende que o Paraguai possa vender livremente seu excedente aos vizinhos Argentina e Chile, se o Brasil não se dispuser a pagar mais pela energia da hidrelétrica.

Nas conversas reservadas com autoridades brasileiras, porém, o candidato tem adotado um tom menos agressivo, segundo relato de graduados diplomatas brasileiros. Integrantes do governo brasileiro dizem não acreditar em uma radicalização no Paraguai semelhante à decisão adotada pelo governo Evo Morales, na Bolívia, que nacionalizou as reservas de gás e petróleo, e passou a exigir pagamentos maiores por parte das empresas petroleiras, entre elas a Petrobras. Itaipu, diferentemente das reservas de gás boliviano, está situada na fronteira, entre Brasil e Paraguai; e a situação política paraguaia em nada se parece com a forte radicalização observada na Bolívia, onde os indígenas pressionam fortemente, com atos violentos, até o governo Morales, que ajudaram a eleger.