Título: Margen inicia ajustes e deverá demitir 1,5 mil
Autor: Lima , Marli
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2008, Agronegócios, p. B14

Falta de gado para abate e restrições impostas pela Europa para importação de carne bovina levaram o frigorífico Margen a iniciar um plano de ajustes que deverá resultar na demissão de 1,5 mil empregados. O primeiro passo foi dado em Paranavaí, noroeste do Paraná, onde 205 pessoas receberam aviso prévio na semana passada. Mas os cortes deverão atingir todas as unidades do grupo no país.

Adalberto Silva, diretor administrativo do grupo, contou que muitos empregados executavam serviços para atendimento ao mercado europeu, que dá mais trabalho mas, em compensação, compra produtos de maior valor agregado. "Vender para a Rússia exige menos gente", disse ele, que não vê mudanças no cenário no curto prazo.

O Margen informou ao Valor, por comunicado, que as iniciativas em andamento têm como meta a expansão de suas atividades, porque a redução de pessoal irá prepará-lo para o crescimento. Por mais estranho que pareça o raciocínio, a empresa explica que, desde dezembro, adquiriu quatro unidades de abate e arrendou outras três. Com isso, o número de empregados subiu de 8 mil para 9,5 mil, e são esses 1,5 mil adicionais que estão sendo cortados.

A empresa diz que tem como objetivo "capturar boas oportunidades de mercado e ao mesmo tempo enfrentar um conjunto de fatores adversos" como a escassez de oferta de bovinos para corte, as restrições européias e a "conseqüente tendência de aumento de ociosidade dos abatedouros instalados no Brasil". O Margen alega que a exportação de gado em pé, em especial pelo Rio Grande do Sul e Pará, piorou o cenário. Recentemente a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) criticou essas exportações, que considera "um retrocesso para o país porque não agrega valor algum à economia regional". A Abrafrigo pleiteia do governo uma taxação para desestimular essas operações.

Silva explicou que o número de demissões não está fechado e vai depender da quantidade de abates de cada unidade. Segundo ele, o grupo tem se esforçado para reduzir despesas operacionais e custos financeiros e está diversificando as atividades. Parte dos aportes feitos em 2007 e programados para 2008 destina-se à produção e abate de aves e suínos.

O Margen tem unidades de abate em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pará, Rondônia e Tocantins. Nos últimos quatro meses comprou o Frigorífico Vilhena, em Barueri, o Bom Charque, em São Paulo, o Charque Rosarial, em Ibiuna, e o Frigel, em Santana do Parnaíba. Também arrendou o Frigorífico Persa, em Cesarina (GO), para abate de suínos, e frigoríficos em Pimenta Bueno (RO) e Paraíso (TO). No período, reabriu uma planta de bovinos em Rio Verde (MS), que passou a abater suínos, e começou a construir uma unidade em Barra do Garça (MT) destinada ao abate de aves.

As demissões do Margen ocorrem três anos após a empresa ter vivido outras turbulências, quando a operação "Perseu", da Polícia Federal, levou à prisão sócios e diretores - posteriormente liberados - por acusação de sonegação de R$ 150 milhões em tributos federais, estaduais e municipais e em dívidas com o INSS. Na ocasião, o grupo praticamente parou. A ocorrência de aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná também resultou em dispensas. Seis de suas 16 unidades foram fechadas na ocasião.