Título: Expansão do crédito traz risco maior, diz Fitch
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2008, Finanças, p. C5

Os bancos brasileiros nunca emprestaram tanto. Embora bem posicionados para absorver pressões futuras, eles podem vir a ter problemas caso ocorra um desaquecimento da economia. Neste cenário, a agência americana Fitch Ratings colocou o sistema financeiro brasileiro na categoria de mais alto risco dentro de seu sistema de análise.

A classificação do Brasil, levando em conta o potencial de risco sistêmico, subiu do nível MPI-2 (risco médio) para o MPI-3 (risco alto), considerando o Indicador Prudencial Macro (MPI, na sigla em inglês), que vai do nível 1 (risco baixo) ao 3. Este indicador avalia em que medida fatores como a expansão do crédito e variação na taxa de câmbio deixam o sistema financeiro potencialmente mais vulnerável às correções nos preços dos ativos e crises econômicas.

Esse indicador faz parte de uma matriz de análise de risco e é reavaliado a cada seis meses. Em setembro, o nível de risco do Brasil já havia sido alterado de 1 para 2. Peter Shaw, analista responsável pelo relatório "MPI-3 do Brasil: Sinal Amarelo Piscando - Será que os Bancos Apertaram o Cinto?", argumenta que o que está acontecendo agora no país deve ser monitorado com cautela. Semelhante a outras crises financeiras, o crédito dispara porque a economia está bem. Mas se houver qualquer problema na economia, a capacidade de pagamento destes novos tomadores fica comprometida.

Soma-se a isso, a pouca tradição do Brasil com o crédito bancário, fator comprovado pela relação historicamente baixa entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB). Por fim, não há uma forma confiável de medir o endividamento global das pessoas físicas.

Shaw ressalta que esta classificação avalia o sistema financeiro como um todo e não cada banco individualmente, como no caso dos ratings, que estão bons e não devem ser alterados. As perspectivas para o mercado de crédito no primeiro semestre continuam "sólidas". "Olhando mais à frente, as perspectivas são de expansão econômica um pouco mais lenta." Com isso, 2009 pode ser um ano um pouco mais complicado, na medida em que um crescimento menor pode pressionar a receita líquida financeira dos bancos.

A outra medida para avaliar a vulnerabilidade de um sistema financeiro, complementar ao MPI, é o Indicador Sistêmico Bancário (BSI, na sigla em inglês), que mede a força do sistema, em uma escala de A (qualidade muito alta) a E (muito baixa). A nota do Brasil permanece em C, considerada alta para países emergentes, que têm no geral classificação D.

Segundo Shaw, uma das diferenças dos bancos latinos é que aqui eles financiam o crédito com recursos próprios ou via mercado de capitais. Já no Leste Europeu, os bancos captam no exterior. Com o aperto no mercado de crédito global, provocado pela crise das hipotecas subprimes, eles podem vir a ter problemas no futuro.

O relatório da Fitch também destaca o "enfraquecimento" do sistema bancário americano e suíço, decorrentes da crise do subprime. "O risco sistêmico dos bancos continua aumentando."

Países desenvolvidos, como Canadá, Austrália e Irlanda, também estão no mesmo nível do Brasil, na categoria MPI 3. O país mais preocupante, segundo o relatório, é a Islândia.