Título: Meirelles defende blindagem externa para tornar possível redução da Selic
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu ontem que a blindagem da economia brasileira contra a vulnerabilidade externa será um dos grandes trunfos para que o país consiga alcançar uma "trajetória de juro cadente". Ele ressaltou, no entanto, que isso é apenas um cenário e não uma sinalização para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje. "Todo esse trabalho que está sendo feito no Brasil, toda essa redução de vulnerabilidade, é que vai fazer com que as taxas de juros no Brasil tenham uma trajetória cadente", afirmou Meirelles, que antes havia alertado que esta é uma perspectiva e não uma dica de curto prazo: "Não estou indicando nada, já estou treinado para não indicar nada", disse. Durante seminário sobre os cenários para a economia em 2005, promovido no Rio, Meirelles defendeu o superávit em conta corrente como uma mudança importante introduzida pelo atual governo. "Na década de 90, havia um certo consenso de que o crescimento seria financiado com a poupança externa e por isso seria razoável conviver com os déficits em conta corrente", lembrou. As sucessivas crises externas, no entanto, teriam mostrado que esse modelo produzia vulnerabilidade excessiva, que afastava os investidores de curto prazo e impedia a continuidade do crescimento. "Os asiáticos quebraram esse paradigma ao mostrar que o financiamento pode vir dos ganhos com a exportação", disse Meirelles, mostrando que o país passou a seguir esse modelo nos últimos anos. Além do superávit em conta corrente, o presidente do BC apontou a política de redução da dívida pública e ainda da parcela desta atrelada ao câmbio como outros fatores que contribuem para a redução da vulnerabilidade. Segundo ele, essas políticas ajudam a produzir uma previsibilidade maior da economia brasileira, o que colabora para trazer mais investidores. Além da blindagem da economia, Meirelles voltou a defender o controle da inflação como condição básica para o crescimento. Ao mostrar uma tabela com o crescimento médio dos principais países emergentes desde o início da década de 90, ele apontou que todos controlaram a inflação no período. Enquanto China e Índia tiveram forte crescimento com inflação média no patamar de 5%, o Brasil cresceu 1,8% no período, com inflação média de 161%. "Se nós olharmos as atas do Copom, o BC tem agido como todos os bancos centrais do mundo com relação às dinâmicas da inflação", disse Meirelles, ao fim da palestra. Ele ressaltou, porém, que o importante é pensar porque os juros são altos. "O fato é que país está crescendo, a inflação está mostrando a dinâmica que tem. Portanto, o fato concreto é que a política monetária do Banco Central tem provado ser adequada para o país", afirmou ele, que destacou também as projeções do FMI para o crescimento brasileiro em 2005, que passaram de 3,5% em setembro para 3,7% em janeiro. Meirelles disse ainda que as taxas de juros do segmento livre do mercado ainda são muito altas e que é preciso pensar no que o país tem de fazer a longo prazo para que estas caiam e defendeu que, no futuro, possa haver uma unificação nos diversos mercados de crédito: direcionado, livre e externo.(Com FolhaNews)